Ir Além do Espelho na Economia (I)
A Essência Pode Estar Também Por Trás das Aparências
Mais uma vez, atenho-me à boa literatura, precisamente, no Realismo de um velho conto machadiano. Mesmo que escrito no século XIX, serve-me de respaldo analítico bastante atual, haja vista os tantos conflitos que ainda afligem a humanidade.
À parte, falhas conceituais históricas e distintas interpretações econômicas, penso que a complexidade natural do que foi e do que continua a ser a dinâmica do mundo, faz-se por exigir dos cronistas, analistas ou técnicos mais densidade no entendimento e na transmissão do conhecimento.
De fato, é preciso ir além das imagens refletidas num espelho. Tal e qual o alferes Jacobina, do conto de Machado, cabe uma busca por algo que se sobreponha as aparências. Que permita trazer à luz a essência de uma realidade muitas vezes dissimulada, pela indisposição da sociedade em encarar seus desafios mais conflituosos.
Ver o que não se vê. Deixar de ver o que sempre se vê. Cá para nós, taí uma simulação da realidade que faz muito sentido. Irei ao ponto, num exemplo clássico que envolve a relação turismo e cultura, com toda expressão econômica que esse binômio carrega.
Mesmo que, às vezes, haja um grave equívoco em estratégias de turismo desvinculadas de identidades culturais fortes (que o diga o viés quase único exercido pelo padrão sol e mar, como é o caso do marketing turístico do Nordeste), exemplos de sucesso desse binômio são fatos. As aparências não enganam. No entanto, a essência que pode estar por trás de tamanha evidência costuma revelar um poder extraordinário de um culturalismo que se promove de modo hegemônico, bastante linear. Claro, que com substanciais elementos de poder econômico.
Um dos melhores exemplos disso é o caso do destino Orlando, consagrado como o império do entretenimento, cuja maior marca empreendedora está representada pelo nome Walt Disney. Quem duvida que ir além da aparência do espelho econômico não está uma forte identidade cultural, muito bem construída como elemento de poder e na forma de "produto especial" para exportação? Isso tem um significado: representa o "american way of life".
Na próxima coluna, trarei mais conteúdo para está análise, num estilo "jacobiniano" da "alma interior" em contraponto com a "alma exterior". Ou seja, além da imagem de sucesso empreendedor enquanto um "case" de turismo, para o "interior do espelho, caberá aquela velha preocupação do Mestre Ariano, sobre nossa identidade cultural. O realismo conflituoso está posto.