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Mais e Novos Desafios São Reservados à Educação

A Educação Explica o Desvio de Funções nos Postos de Trabalho

Alfredo Bertini, economista e colunista da Folha de Pernambuco - Acácio Pinheiro/MinC

Notícia da hora: cresce o número de pessoas com ensino superior, em trabalhos que não exigem essa escolaridade. Por trás dessa matéria que assisti pela TV, pode até existir algo por considerar como defensável, se o analista usar a lente que foca na ocupação em si. Mas, na essência da manchete jornalística, parece-me mais visível uma outra face da realidade educacional brasileira. Justo quando os tempos parecem se mostrar mais exigentes quanto à qualificação dos recursos humanos. 

Percebo que algo insólito paira no ar, nesses complexos e heterogêneos mercados que ofertam e demandam mão de obra aqui no Brasil. Fato esse despercebido ou pouco notório, quando ainda na primeira metade dos anos 80, em pleno exercício acadêmico, busquei me especializar na chamada Economia do Trabalho. É que noto hoje nos mercados de trabalho uma espécie de "subemprego formalizado", que tem dado o ar da sua graça, nessas modernas relações de trabalho.

De fato, vejo que no perfil do trabalhador atual, entre tantas mudanças ocorridas no lastro de quatro décadas, há um certo descompasso entre o sonho e a realidade. É a frustração de quem conseguiu um titulo universitário, mas que se vê ocupado em funções desassociadas àquela formação. E isso tem aumentado a olhos vistos, no cenário socioeconômico brasileiro. De acordo com alguns dados do DIEESE, entre 2019/22, esse aumento foi da ordem de 21%. Assim, ao mesmo tempo que assistimos a essa ocupação se propagar, outras intenções da demanda por mão de obra qualificada, também seguem em ritmo de crescimento. Ou seja, cresce o número de vagas abertas e não ocupadas por trabalhadores, em áreas de ponta, como às relacionadas com capacidade criativa e inovações tecnológicas. Aqui, portanto, há outro nível de descompasso, no qual setores dinâmicos, que revelam capacidade produtiva em áreas de desenvolvimento tecnológico, não têm conseguido absorver mão de obra apropriada.

Nesse panorama diferenciado, quero expressar duas formas de preocupação: sobre o ritmo atual ditado pelo desenvolvimento econômico e a respeito dos desafios de um modelo educacional que ainda não nos garante uma resposta adequada, no curto prazo.

Parece-me desnecessária  qualquer ênfase com relação aos novos paradigmas que têm influenciado o desenvolvinento econômico. No entanto, nessas mesmas quatro décadas,  o mundo foi transformado de um modo avassalador, numa transição que envolveu a proeminência de novos fatores de produção, que não só aceleraram tais mudanças, como criaram referências e comportamentos que mexeram na essência daquele binômio tradicional dado pelo capital/trabalho. Para isso, um simples olhar analítico poderá nos remeter a uma configuração de poder econômico, no qual o eixo das relações de capital passou agora a ser exercido por grandes empresas de informação, tecnologia, logística e entretenimento. Do outro lado da moeda, um "modus operandi" novo, que se pauta por relações de trabalho mais flexíveis, embora ditadas pela exigência em torno de mais cognição, empatia e expressividade. Penso que essa é a cara que irá padronizar os ciclos de desenvolvimento, já alinhados para acontecerem.

Percebam os leitores que só por esse contexto, não há como se desvencilhar das exigências do que outrora foi tratado como o papel do chamado "capital humano". O cerne do humanismo atual passou a considerar,  mais fortemente, a relevância de se contar com uma mão de obra bem mais preparada, capaz de encarar a magnitude dos desafios econômicos postos pelas atuais relações do capital. É aí que o "bicho pega", porque a Educação neste país é apenas uma "prioridade" de uma peça de ficção que aqui chamo de "história das políticas públicas para a educação nacional". Nada é mais exemplo do fosso entre promessa e realização, do que o "roteiro" da educação no Brasil. Eleições acontecem, governos entram e saem, mas o imobilismo fica como resultado recorrente. E sem o mérito cabível à educação, qualquer transformação, se porventura acontecer, é incompleta.

Em tempos inéditos de razoáveis projeções econômicas para 2024/25, continua o Brasil à espera de um efetivo plano de desenvolvimento. Um instrumento condutor que, além do valor insuperável da educação, considere ainda a identidade cultural e os avanços cientifico-tecnológicos como vetores vitais. Mesmo assim, dada essa apista, ainda continuaremos por algum tempo a ver o descompasso entre o sonho e a realidade nesse jeito moderno de tolerar o "subemprego formal", daqueles que com escolaridades superiores (boas ou más), ocupam postos de trabalho tecnicamente inferiores.

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