Mais um Sofisma de Composição
Os Exemplos Recentes no Turismo Validam as Teorias Econômicas
Antecipo-me no esclarecimento ao leitor. Não se trata de iniciativa em favor de um texto que se revele rebuscado. Não é extravagância estilística, nem exagero do tal "economês". Digo que o conceito de "Sofisma de Composição" é do vocabulário natural da Economia.
Diante da uma complexidade que pauta os atos cotidianos dos agentes econômicos, é comum verificar que o "todo costuma não corresponder a soma das partes". Numa linha clara e direta, nem sempre o que pode ser uma boa escolha dos indivíduos, tende a representar o que pode ser melhor para o coletivo. Nesse comportamento, a sociedade não projeta uma autoimagem de cada cidadão. Assim, esse tal "sofismo" que, na sua origem filosófica, foi nutrido pelo conhecimento, sofre distorções de análise, numa "composição" de escala, entre o específico e o geral. A dimensão e a complexidade dos fenômenos sociais exigem cautela na análise, que precisa ser fria nas interpretações e dissociada de excessos ideológicos.
Apesar desse contexto, há como se extrair alguma simplicidade. Refiro-me agora ao entendimento dessa contradição entre as atitudes dos indivíduos e seus efeitos gerais na sociedade. Referências existem para todos os gostos. Cabem aqui duas ilustrações.
Por um lado, a atitude de poupador que advém de uma escolha pessoal é gesto meritório. Contudo, no conjunto da obra, essa iniciativa, vista enquanto exercício coletivo, poderá trazer riscos para o nível da atividade econômica. Menos consumo, menos demanda agregada e daí queda no binômio produto/renda.
Por outro lado, compreender que o modo privado de gestão empresarial tem que ser seguido à risca em ambiente público, representa ação equivocada. Governo não é empresa, de modo que os meios e fins das finanças públicas não constituem a mesma escala e dimensão das finanças corporativas. Empresas e Governos são entes distintos. Sócios e acionistas de uma empresa não têm as mesmas expectativas da diversidade de uma nação.
Nessa pegada, recentemente, um exemplo foi fato. Justo numa atividade econômica, que possui ordem de grandeza. Refiro-me à cadeia produtiva puxada pelo turismo no mundo, para a qual sempre reservei meu reconhecimento como economista.
Dado o papel reservado ao entreteninento no mundo moderno, de muito ócio criativo, não há como desconsiderar a relevância do turismo. Mas, a demanda em larga escala não só dá sinais de que há "rendimentos decrescentes" e "pontos de inflexão". Revelou também o ponto da "exaustão". O que tem ocorrido em Barcelona, Veneza e outros destinos, com reações contrárias aos turistas, só confirmaram um "Sofisma de Composição".
As atitudes promovidas pelos residentes de Barcelona causaram impacto e estranheza. Afinal, não é comum uma reação antiturismo atingir o nível onde moradores atacam visitantes. Por mais que tenhamos um mundo politicamente polarizado e que seja também considerado um esforço identitário de raizes catalãs, algo inusitado ocorreu. A inflexão registrada demonstra um esgotamento, na medida em que uma maioria natural de residentes se vê prejudicada diante de privilégios e concessões dirigidos aos turistas.
Taí um fato ditado pelas circunstâncias de um novo mundo, marcado por transformações. Algo que impõe uma reflexão proporcional ao tamanho do desafio.