Não Há Mais Espaços para Ódios e Diletantismos
A Reconstrução da Cultura Exige uma Urgência no seu Trato Econômico
O pesadelo passou. Nunca antes, na história deste país, o setor cultural viu o abismo tão de perto. Apesar de toda resiliência que bem caracteriza os protagonistas do setor, é verdadeiro que muitos caíram, embora não se saiba sobre a real situação deles. Pelo menos, resta hoje a esperança concreta de que as condições para a sobrevida foram recuperadas - e até ampliadas.
Nas oportunidades que tive de tratar desse assunto aqui na coluna, pelo menos dois pontos, de enorme conexão, serviam para alimentar o ímpeto daquela "guerra cultural" em execução. Em primeiro lugar, o sentido 4 D que bem caracteriza a postura dos críticos da produção cultural: desconhecimento conceitual, desinformação velada, desleixo consensual e destruição determinada. Na agregação desses elementos, como uma espécie de vetor resultante, tinha-se em conta mais um meio para não se reconhecer a cultura como setor econômico. Neste caso, por mais que se notasse a capacidade de mobilização de recursos, o escapismo de um preconceito estrutural sobre o papel da arte e da cultura, sempre servia de barreira para se negar o ato de empreender, de ser agente econômico.
Jamais imaginei que o setor fosse à plenitude do caos, para que nessa condição, fosse quase que zerado o discurso econômico. No pior momento setorial, determinado por uma política pública de efetiva vontade por criminalizar tais agentes, ficou mais do que evidenciada a promoção da "marginalização", em duplo sentido. Dessa maneira pela qual o setor se viu atingido, faltou-lhe bem antes dos recentes tempos inglórias, outras iniciativas públicas e privadas, que fizessem da cultura um verdadeiro eixo do dinamismo econômico.
Meu esforço pessoal como um economista, que pudesse contribuir para esse mérito setorial, foi cumprido desde o final dos anos 90. A partir do momento que construí um mero projeto, capaz de servir de exemplo individual, numa discreta referência de cadeia produtiva, que entendi bem a expressão econômica. Somente em 2008, quando lancei o livro "Economia da Cultura", que pude ampliar minha contribuição ao debate. Até pelo menos 2018, dez anos após a publicação, o tema ficou patinando, sem avanços concretos, no objeto maior de assistir a Cultura como um setor efetivo e ativo na Economia. O desastre da politica cultural no período 2019/22, só fortaleceu o distanciamento.
Ainda bem que tudo mudou. Mas, por enquanto, no sentido de recuperar conquistas anteriores, as que entraram no raio do quarto "D" - o da destruição. Retomar com a grandeza das prioridades e dos incentivos públicos consagraram o primeiro passo. Fortalecem o entendimento de que a diversidade e a complexidade da produção cultural é simplesmente estratégica para a Economia. E por uma razão muito simples, que os críticos e outros agentes dispersos da siciedade não conseguem enxergar. Aqui, rwfiro-me ao valor incomensurável da identidade, a expressão mais verdadeira da genética de uma nação. O que seria do nosso país, se as variadas manifestações culturais, populares ou não, fossem eliminadas do nosso convívio social? Que tipo de sociedade seria essa se procedêssemos na rota do erro?
Refeito agora o "dever de casa", parece-me cabivel retomar aquela minha velha insistência: e a consolidação do discurso econômico, como irá ficar? Não podemos insistir com erros conceituais básicos (confundir fundos com incentivos) e o baixo engajamento de todos os agentes sociais, comprometidos ou não, com a causa da cultura. É preciso um esforço comum de mobilização pública e privada, para que se ponha o setor no seu eixo de protagonismo. A menos que não se queira entender, priorizar e agir, em nome de um desenvolvimento que se faça mesmo sustentável. Tratar a cultura sem ódio já representa assunto superado. O esforço de agora é vê-la superar toda uma história de diletantismo. É trazê-la para o mundo de um empreendedorismo, que atue para o desenvolvimento sustentável do Brasil.