Nem magia, nem pirotecnia: mais sensatez para a economia
Desde a "nova revolta do vintém", quando milhares foram às ruas e nelas questionaram os 20 centavos a mais do preço das passagens de ônibus (2013), que os sinais econômicos da estagnação ganharam contornos, no sentido de que algo estava errado. Faz 7 anos que nossa economia entrou em espiral de queda. Essa desaceleração foi fato sensível aos números. Os protestos apenas trouxeram à tona a insatisfação popular com o verniz da instabilidade política e da desigualdade social.
Longe da essência da discussão política que levou à ruptura o Governo Federal, concentro-me na fragilidade do contexto social. Por maior que fosse o esforço de identidade ideológica dos governantes por esta causa, os sinais de um desastre econômico anunciado derrubaram a estrutura política e o discurso distributivista. Na sequência, foram-se os tempos de menor desigualdade com os ganhos sociais obtidos, inicialmente, pelo "Plano Real" e, posteriormente, pela opção de continuidade de política econômica no primeiro mandato do Governo Lula.
Depois disso, a inflexão econômica, na qual o descontrole fiscal foi a força motriz, atingiu seu ápice de tolerância em junho/13. Daí, houve a reação popular pela perda das conquistas anteriores e se atingiu um novo ciclo de baixíssimo crescimento do PIB e consideráveis taxas de desemprego (atingiu-se o histórico estoque dos 13 milhões de desempregados). Combustíveis suficientes para a explosão política que proporcionou um impeachment e uma guinada na direção do outro pólo ideológico.
Nesse cenário, o Governo atual assumiu o comando ciente de que a "nau da economia" ainda estava em "mar revolto", "marcha lenta" e "à deriva". De fato, o remédio exigia algumas "posologias controláveis" de terapia liberal, cujos instrumentos fossem as reformas previdenciária, fiscal e administrativa, preliminarmente encaminhadas pelas gestões anteriores do ministro Meirelles e do Parlamento.
Se até antes da pandemia os esforços governamentais foram pautados pela timidez terapêutica, o advento da "multicrise" atual tem deixado a equipe econômica atônita e insegura. O dilema está em gerir a base ideológica liberal da equipe económica diante de uma realidade que exige a "mão pesada" do Estado. A falta de saber conduzir a cena política com habilidade e daí discernir com sensatez tem sido um problema. Equilibrio de trapezista e paciência franciscana são atributos da hora, só que não cabem bem às partes que hoje atuam pela negociação. Mas, há quem creia em mágicas. Assim como, há os que estão em cena apenas para fazer pirotecnia.
Em nota anterior, disse que um momento inédito aflige a maioria dos economistas. Um misto de reflexão e expectativa envolve esses e outros agentes econômicos, em torno de saber como o Governo, no seu embate com o Parlamento, irá custear o "Renda Cidadã". A solução que o Governo insiste parece mesmo "mágica" ou "queima de fogos de artifício". Parece-lhe fácil, pois o "xis" da equação para o financiamento está ao alcance das mãos, sem ampliar o teto dos gastos, não aumentar a carga tributária e não ferir interesses corporativos. Uma agenda improvável. O anúncio de solução rápida como "postergar os precatórios" tem cara de calote. E tirar do FUNDEB parte da cobertura à educação, tem forma de "pedalada". Enfim, aguarda-se quantos "coelhos" a equipe econômica terá que "tirar da cartola" e daí se decifrar a mágica. Ou mesmo, se continuará a soltar fogos e comemorar o sentimento populista que bate nessas horas.
ECONOMIA E ECOLOGIA> Penso que seja pertinente dar um outro ECO ao embate que tentam projetar entre a ECOnomia e a ECOlogia. Há em voga um falso dilema entre o desenvolvimento econômico e os padrões ecológicos, justo porque confundem instrumentos. A questão não está nas RÉGUAS que possam medir uma ou outra. A solução está em usar ESQUADROS, capazes de traçarem linhas paralelas entre ambas.