Nem sensacionalismo, nem politização: melhor agir com equilíbrio
Reinhold Niebuhr foi um teólogo e cientista político norte-americano, autor de uma reflexão bastante utilizada em textos variados.Também farei uso dela, embora de forma mais resumida, por julgar oportuna para a pretensão descritiva que baseia minha análise de hoje.
Antes, porém, quero dizer que me inspiro num tema econômico que ganhou muito destaque nos últimos dias aqui em Pernambuco. Refiro-me à divulgação dos resultados da pesquisa "Doing Business Subnacional 2021", realizada pelo Banco Mundial, na qual são apontados alguns entraves para a realização de negócios nos estados brasileiros. Nesse relatório, foi apontado que Pernambuco foi o estado de pior desempenho, conclusão essa que causou alguma polêmica.
Não resta dúvida de que uma informação dessa magnitude, por si só, expressa um forte impacto. Ainda mais quando no estudo consta a assinatura do Banco Mundial, com toda sua credibilidade institucional. Eis o roteiro perfeito para a cartilha dos precipitados: informação de pesquisa oriunda de fonte confiável. Ou seja, combustível para aguçar o sensacionalismo habitual de parte da mídia, bem como, para inflamar o oportunismo da politização nesse clima polarizado.
Cabe-me agora apelar para Niebuhr: "serenidade para aceitar o que não pode ser mudado; mudar o que pode ser mudado; e, sabedoria para distinguir uma coisa da outra". Bem, o episódio do relatório se não me permite rejeitar o resultado, se não me condiciona a apostar numa mudança metodológica, leva-me a entendê-lo na sua mera concepção. No entanto, a verdadeira sabedoria não está apenas em reconhecer esses fatos nas suas distinções. Afinal, a verdadeira interpretação dos resultados não cabe ao sensacionalismo, nem muito menos à politização. O mínimo de exercício analítico equilibrado poderá mostrar que não é de forma precipitada que a banda irá tocar. Lógico que a pesquisa tem seu valor e que os números são implacáveis. Mas, dela se concluir que Pernambuco está avesso ao ambiente de negócios ou que os governos do estado e da capital são responsáveis pelo quadro há um enorme erro de análise.
Valho-me da devida explicação. De acordo com o Banco Mundial, foi a 1ª vez que a pesquisa foi feita no país e 5 critérios foram analisados para se medir a realização dos negócios: 1) abertura de empresas; 2) obtenção de alvarás de construção; 3) registro de propriedades; 4) pagamento de impostos; e, 5) execução de contratos.
Acontece que, desses pontos, preciso considerar que: 1) a análise foi dirigida apenas às capitais, mesmo que nelas haja um efeito concentrado dos negócios; 2) os itens de análise expressam um grau elevado de burocracias e regulamentos, que na sua origem pública têm vínculos entre as três esferas executivas governamentais, entre os poderes públicos e entre agentes e instituições da sociedade privada; 3) dos 5 itens avaliados, apenas o primeiro possui forte dependência dos governos estaduais; 4) a variância observada nos números apresentados foi de baixa expressão (o melhor estado avaliado que foi SP teve 59 pontos ao passo que PE teve 51); e 5) os resultados terminam por traduzir uma verdadeira "cultura burocrática" que tem DNA nacional, haja vista que de 190 países pesquisados o Brasil obteve o inglório posto de número 124.
Enfim, mais do que a certeza de um fato concreto de ser todo o território Brasileiro um ambiente que descredita nos negócios, seja por uma visão anti-empreendedora ou pelo mal da burocracia causada pelo vírus "burococus", fica também a lição de que a cautela analítica é algo vital. Ou melhor, agir com equilíbrio é tudo.