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No País da Insegurança Alimentar, Combater o Desperdício é Ir Além do Agro

Quando o Retorno das Atitudes Vale Mais do que o dos Investimentos

Valter Campanato/ Agência Brasil

Embora possa parecer um desafio quase que desestimulante, para alguns que comigo comungam da mesma opinião, creio que me empenho ao máximo para tratar de temas aparentemente extremos e conflitantes. Num esforço muitas vezes incomum, tento buscar o sentido da moderação e procuro entender a dinâmica da contraparte. Há como tirar lições desses despretensiosos experimentos. 

Ensaio um exemplo atual e de profundo significado econômico. Nesse intuito, extraio o melhor dos sumos, diante de tanta polêmica que se faz em torno do sucesso do agronegócio, mesmo que sejam meus propósitos os mais contraditórios nas discussões comuns. Assim, nessa minha modesta dialética interpretativa, exponho talvez a  contradição mais indigna: como um país pode conviver com um setor econômico capaz de tanto sucesso para produzir alimentos e até exportá-los se, ao mesmo tempo, acolhe uma tolerância para suportar a grandeza de uma insegurança alimentar tão imprópria?

De fato, na ordem de grandeza dos seus números, o Brasil com suas dezenas/centenas de milhões de toneladas de grãos bate recordes nas exportações. E, ainda cresceu, num lastro de 20 anos, sua produção geral de alimentos. Contudo, ao mesmo tempo, vê-se submetido ao status de um regime de insegurança alimentar, cujas estatísticas mais recentes, mostram o quanto somos capazes de por cerca de 21 milhões de brasileiros, em condições sub-humanas. Afinal, esses estão submetidos ao padrão do que entendo ser a maior barbárie da humanidade: o fracasso político de soluções para a fome.

A parte desse roteiro, que tem o agronegócio como um dos setores mais dinâmicos da economia, claro que representa uma conquista de importância indiscutível. Nessa mesmo grau de euforia, sempre julguei precipitado e inapropriado o juízo de valor que generaliza esse sucesso econômico, tratado como uma espécie de vilão, daquele tipo que se fez grandioso devido às suas artimanhas. Nesse sentido, como um setor assim condenado por conta das suas ações agressivas às teses ambientais. E agora pior: pela falta de compromisso com o resgate das questões sociais, entre as quais a fome. Esta, enquanto situação muito atrelada à dinâmica do setor.

Equilíbrio nas análises é mesmo um exercício necessário. É bem sabido que o comportamento padrão de qualquer setor de atividade, da mesma forma que não carece de ser generalizado, costuma ter também seus exemplos atípicos e amorfos. Quando não ocorre dessa mesma análise se mostrar fora de uma realidade técnica, posto que muitas vezes está contaminada pelos padrões ditados pelo maniqueismo ideológico. 

Uma demonstração desse equilíbrio tive ao assistir na TV um dos recentes programas do bom jornalismo especializado - o Globo Rural. Numa matéria, constatei uma boa resposta para eesse modo natural de enxergar o equilíbrio. Exemplos de projetos ligados ao agro, comprometidos com as questões atuais da sustentabilidade e da fome. Enfim, percepções que tratam, em primeiro lugar, os assuntos pelo viés técnico, para depois operar situações que efetivam respostas adequadas àquelas questões da hora. Tudo dentro de um cenário de respeito ao que a ciência e a tecnologia foram capazes de fazer, na maioria das vezes, numa real dependência de uma banda eficiente do setor público (que o diga a EMBRAPA). Tudo nome do sucesso do agronegócio. E agora, em nome do combate à fome.

Na percepção geral, exemplos de projetos de produção de frutas, hortaliças e outros alimentos, que precisam passar, antes de qualquer ação de enfrentamento contra a fome, pelo combate efetivo ao desperdício. Há casos de perdas que atigem quase 50% da produção. Em complemento a isso, a demonstração de que muitos produtores exercem sua cidadania plena, quando se comprometem a distribuir as partes não selecionadas dos seus produtos, para entidades gestoras de assistência social, em especial, aquelas que lidam diretamente contra a fome.

Podem parecer exemplos muito pontuais ainda, mas demonstram um contexto de que tudo não está tão perdido assim, do jeito que evidenciam pessimistas e céticos. Os empreendedores que agem a favor dos princípios da proteção ambiental e do humanismo, bem sabem que atitudes podem ser mais baratas que dados investimentos. Há provas para esse teorema dos novos tempos. Basta executá-lo.

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