O Apartheid Social Presente no Ataque ao Estado Democrático de Direito
Duas questões de impacto econômico nos atentados de 8 de janeiro em análise
Pelo menos duas questões de impacto econômico, deixaram-me estarrecido com os atentados de 8 de janeiro. São fatos relevantes por considerar, em quaisquer análises do ambiente socioeconômico. No entanto, por minha livre e espontânea preocupação com os problemas estruturais que ainda se escondem, por trás de uma ambiguidade escapista de parte da sociedade, irei-me concentrar nesta questão. Afinal, poucos perceberam que uma das essências desse ideal golpista, só consagra o padrão dissimulado de ratificar os distintos modos de um "apartheid social à brasileira".
A primeira, mais notória e que trato aqui pelo dever do registro, representou um aspecto que só corroborou com o estado geral de insegurança. Aliás, algo que não exprime qualquer ânimo de curto prazo, para os agentes econômicos. As incertezas das divergências internas quanto à condução de uma política econômica já posta como desafiadora, somou-se agora uma desconfiança política ainda centrada na polarização eleitoral, que tenta resistir perante a sociedade.
A segunda questão, por sua vez, evidencia uma situação que pode trazer o agravamento das mazelas sociais, o que tende a levar a política econômica a ficar ainda mais comprometida do que já se encontra, em termos de gastos públicos. Em condições normais de resgate da situação social, para efeito de uma efetiva melhoria, a aposta na capacidade pública de contar com recursos para tal é inevitável. A incredulidade a essa resposta se dá pelo fato de que os "golpistas de plantão" se vendem como liberais ortodoxos, mas agem como "gastadores populistas" e "perdulários deletérios". Sobre a disposição de gastar por gastar, quando o assunto é eleição, já tive a oportunidade de comentar aqui por algumas vezes. Prefiro agora chamar a atenção para esse outro lado do comportamento gastador, justo a capacidade deletéria. Mais perceptível quando os golpistas vão para "as vias de fato" e cometem atrocidades de espírito vergonhosamente supremacista e autoritário. Vistos por esses atos de 08 de janeiro, criaram uma mácula para os registros históricos da nossa tão ultrajada democracia.
Vale dizer que, essa minha tese que expõe o lado "deletério", tem tudo a ver com um conceito mais profundo, diria até mais estrutural. Ou seja, a vontade que foi expressa pela destruição física resulta de uma mera consequência ideológica de supremacia, de agir como singular, ou mesmo, de tentar enxergar a realidade nacional por lentes homogêneas.
Isto posto, o destruir por destruir é também a consagração de um "status" que só perpetua um certo "brazilian way of life", típico de alguns que estão no topo da pirâmide. Noutras palavras, discursos e ações que só servem para aprofundar as desigualdades, em todas suas formas raciais e de gênero.
De fato, se a essência do discurso dos golpistas não validam nordestinos, pretos, indígenas, LGBTQI+ e pobres em geral, qual o sentido e a amplitude de uma política econômica, que não seja em nome do bem estar? Como fazer isso sem prioridade na educação, cultura, meio ambiente, ciência e tecnologia? Independente de uma urgente realidade que disponha de um gatilho fiscal, é preciso ser utópico otimista que possa dar o ímpeto necessário para esse novo padrão de desenvolvimento, que resgate essa dívida social de veio estrutural.
Tem razão o mestre Cristóvam Buarque na reescrita de um clássico da sua bibliografia: a última trincheira da escravidão. De fato, um exemplo de país inacabado, que não concluiu sua abolição, um avanço inclusivo contra a desigualdade poderia ser dado com um outro olhar, via educação. Algo diferente do modo de pensar do supremacismo tão peculiar aos golpistas de plantão.