O Bloco da Economia Está nas Ruas (I)
A Agenda Econômica é a Senha de Acesso aos Temas da Semana
Tempos carnavalescos me fizeram lembrar agora de uma velha marcha canção. Nela, para se "querer por o bloco na rua", não importa se o autor "dormiu de touca, perdeu a boca, fugiu da briga, caiu do galho, morreu de medo e não viu saída". Ele pôs o bloco na rua, diante das situações mais adversas.
A realidade nua e crua é que se vive o Carnaval e o bloco precisa estar pronto para ganhar as ruas. Até meamo quando o assunto é árido e os porta-bandeiras não costumam ser difusores de boas previsões. Afinal, os economistas podem ter lá seus blocos. Mesmo que nos ritmos momescos, trazem à baila suas observações e seus prognósticos. Carnaval e economia podem conviver juntos. Por isso, exponho essa realidade em dois textos: hoje e sexta-feira. Já me coloco como cortesão da realeza de Momo.
Nesse paralelo, a semana promete. E o enredo está focado no Banco Central. Na real, qual o sentido da discussão sobre o papel de autonomia da Autoridade Monetária? Será que o valor ideológico de um embate eleitoral tão polarizado, faz com que o valor técnico de um ofício institucional, que compete ao Estado, seja visto como subserviente? Noutras palavras, revogar uma autonomia, conceitual e institucionalmente estabelecida, seria uma decisão de política pública melhor que o entendimento entre a técnica e a política?
De fato, a autonomia dos Bancos Centrais (assim mesmo, no plural) tem sido um ativo praticado em variados ambientes econômicos, enquanto atitude responsável diante de eventuais lambanças, que costumam ser praticadas pelos proselitismos políticos. Por si só, é evidente que tal conquista não representa solução para os impulsos governamentais de se gastar sem pudores. Nem muito menos, de se controlar processos inflacionários de essências diversas e complexas.
A questão é que essa autonomia precisa ser vista longe de um rigor de independência, mesmo que seja resultante de uma evolução na economia do setor público, enquanto dispositivo que atua como mero freio de arrumação. Retrata um sinal de alerta que, mesmo em linha autônoma, pode trabalhar em paralelo e de modo sinérgico com as demais politicas públicas. Sim, isso é possível. E validam os esforços que tentam mostrar que existe complementaridade entre gastos sociais responsáveis e atentos controles sobre os desequilíbrios fiscais.
Dado que a agenda econômica precisa ser maior que esse tipo de embate conjuntural, perde-se tempo e energia para se avançar noutros planos (inclusive, por temas estruturais), quando a essência da validade ou não daquela autonomia roga por entendimento. Rever a meta inflacionária de 3%, 4% ou 5% para 5,5% pede uma intervenção maior que a leitura fria dos números.
Da mesma forma que o entendimento é cabível e que a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) amanhã possa ter um passo decisivo, não se pode deixar o alerta ligado, quando os 0,59% de inflação em janeiro/23 já projetou um acumulado acima da média (5,77%). Isso sem falar no desânimo com relação ao crescimento econômico. Duro efeito para a realidade social expressa pelos mais pobres, afetados pelo ritmo altista dos preços e pelos riscos da perda de empregos e rendas.
Como o bloco segue e o ritmo está em evidência, seguirei com novas observações no próximo texto.