O Bom Senso do Presente e o Mau Juízo do Futuro
O Novo Censo e o Risco de Perda do Bônus Demográfico
Aldir Blanc, um "imortal" entre os nossos letristas, já dizia que o tempo bate à porta da frente e passa de um jeito, que muita gente não sabe o que é e como ele irá passar. Nesse embalo e de modo geral, parece mesmo que parte da sociedade brasileira não consegue ainda perceber alguns imobilismos que lhe causam danos. Nesse sentido, as oportunidades chegam ao alcance, mas terminam perdidas. Seja por juízo de valores ou até mesmo exercícios de incompetências. Enfim, a reação por decidir, tomar atitudes, perde-se ao sabor do vento.
Isso me parece por demais notório, na alçada das decisões políticas. É que, na maioria das vezes, postergar é ato contínuo do oficio, que costuma se perder com discussões estéreis e histéricas, do jeito como gostam os atores dos extremismos. Com isso, desperdiçam-se energias com temas que só exacerbam os ânimos e pouco ou nada servem para a solução dos problemas da hora e que o país clama por soluções. Que o digam essas entropias perdidas com CPI's como essas do golpe ou da disposição invasora do MST. Questões se não assumidas na sua inteireza pelo Judiciário, mas que caberiam a este poder tratá-las no momento.
Quero me servir desses argumentos, que bem exprimem a capacidade do Brasil de renunciar as boas oportunidades, para aqui tratar das primeiras percepções sobre os recentes resultados do atrasado Censo de 2022. Por mais que esses indicativos sejam mesmo bem preliminares, para efeito de análises mais nutridas pelos aspectos socioeconômicos, muito do que se pode extrair não revela o inesperado, por mais que sejam algumas das informações alvo de surpresas declaradas. A conferir.
Um ponto que trago à baila, refere-se ao fato da consagração de uma transição demográfica, já reconhecida por mais de uma década, já em possível fase final de aproveitamento? O que quero dizer com isso? Algo bem simples: o chamado "bônus demográfico" passa feito "cavalo selado" à frente das decisões políticas e o imobilisomo conjugado com o negacionismo parece ser revalidado. Parece que nunca ouviram, na precisão do versos de Aldir, que o tempo bate à porta. Quem sabe uma aposta na audição da música, regada a bom vinho, entendam que quem bate à porta e anuncia o cavalo é o tal bônus demográfico.
E que danado é isso? Simples de dizer. De novo. Essa é a oportunidade em que o país tem o maior número de pessoas com idade economicamente ativa, em comparação com a população inativa (idosos e crianças). O dever de casa, ainda não realizado, vem da situação de não se ter cumprido antes outras agendas, sobretudo, na educação das crianças/jovens, na interpretação das novas dinâmicas dos mercados de trabalho e na preocupação com a previdência e a saúde dos mais velhos. Tais investimentos perdidos seriam retornados agora ou um pouco mais à frente, por meio de maiores taxas de produtividade, do binômio criação/inovação e bem-estar geral, em especial, dos idosos de 60 ou +, que compõem o grupo dos aposentados.
Embora outras situações similares pudessem aqui compor o escopo da análise (como a queda populacional constatada, mormente, em importantes municípios, com importantes efeitos socioeconômicos), penso que essa particularidade da transição demográfica, ainda exposta ao bônus, seja o aspecto mais fundamental, a ser tratado.
Ao fazer essa minha opção e ainda no meu direito de externar alguma crença na utopia realista que me pauta, quero dizer que o tempo ainda está à porta. Mas, que o cavalo selado está por partir e que, certamente, ele não terá volta. Na minha utopia, parece que tal equino quis traduzir para toda sociedade, que o tempo do "pais do futuro" se exauriu. Ou fazemos agora o presente, de modo consciente e sustentável, ou voltaremos para o registro histórico de mais uma oportunidade. Só que, dessa vez, capaz de condenar o país para um atraso tão inconsequente quanto irreversivel.