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O BRICS Parece Não Ser Bem o Brinco que se Pensa

Algumas Questões Políticas e Econômicas do BRICS Ainda Urgem por Mudanças

Lula, Xi Jiping (China), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Narendra Modi (Índia) e Sergei Lavrov (chanceler da Rússia), respectivamente, durante a cúpula dos Brics - Ricardo Stuckert/PR

Cabe aqui um despretensioso, sutil e breve desafio para economistas ou quaisquer outros cidadãos ou cidadãs. Particularmente, os que estejam em alinhamento ou até gostem das discussões econômicas. Ponho em prática essa ideia, na forma de meros questionamentos.

 O que há de se dizer sobre quem acolhe 42% da população mundial? Ou nesmo, de quem ocupa 26% da superfície terrestre? E, ainda mais  de quem sustenta 25% do PIB mundial? De pronto, há uma resposta comum a tais questões e ela se chama BRICS. Já antecipo que essa sugestiva expressão, na tentativa de mais um exemplo em práticas diplomáticas multilaterais (neste caso, envolvendo cinco países emergentes), parece-me dizer que nem tudo que reluz é ouro. Ou mesmo, como afirmo no título, esse esforço de organização e união dos países que formam o BRICS, não tem sido esse "brinco dourado" tão desejado, enquanto joia que dê o devido valor às pretensões dos países integrantes do grupo.

Na estada do Presidente Lula, nessa última reunião de cúpula, por mais que os esforços dele e dos demais líderes convergissem para avanços mais concretos, os problemas políticos e econômicos são realidades pouco questionáveis. De fato, o esforço de cinco países emergentes, por constituir um fórum para influenciar, neste desenrolar do século XXI, uma ordem econômica bem consolidada, é algo digno de mérito. No entanto, o que se extrai de qualquer avaliação, em 17 anos de atuação institucional, é uma surpreendente ausência de cooperação interna, que fosse suficiente para registrar alguns avanços políticos e econômicos consistentes. 

Por um lado, uma situação política que se reflete em algumas relações bilaterais entre os integrantes, ainda frágeis, quando não, ocasionalmente, tensas. Evidente que a presença de gigantes do tabuleiro político internacional,  como a China e a Rússia, espelham bem um contraponto que rivaliza com os EUA e a Comunidade Europeia, num outro polo. 

Por outro lado, um contexto econômico que, mesmo por razões tão distintas, tem-se pautado por alguns registros de insucessos nas economias. O principal deles pode ser explicado pelo baixo crescimento econômico do grupo, em larga medida, devido à instabilidade nos preços do petróleo e gás natural (setores de ponta, na forte economia russa).

E por falar em Rússia, para o momento atual, há que se considerar ainda os níveis de intolerância e soberba de Putin, quando o assunto a considerar é a guerra contra a Ucrânia. Sua ausência naquele evento recente dos BRICS, ainda sob risco de prisão fora do seu domicílio, parece-me outro elemento preocupante. E, para fechar o "pacote", a proposição final de agregar ao grupo países de profundas diferenças políticas e econômicas, a saber: sauditas, argentinos, emirados, iranianos e egípcios. 

Diante disso tudo, o dourado do brinco parece sofrer o impacto de certos quilates menores, que passaram a constitui-lo. Assim como, democracia e estabilidade econômica, agora parecem se curvar a uma espécie rara de paradigma, que poderá transformar o BRICS num ambiente de "populismo de oportunidade". Um palanque insólito para exercício de abstrações. Isso só me retira o resto da crença e do ânimo que ainda me guiava, na intenção de que o BRICS seria a consagração de uma ordem econômica alternativa e frutífera.

Do jeito que o BRICS tem-se apresentado, a referência que fiz a um brinco, enquanto meio comparativo de joia rara, não se deixa de correr o risco dela ser encarada como uma simples bijouteria. Cabe-nos ver como reagirá a essência real do BRICS.

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