O desafio da agenda econômica no país das piadas prontas
Seja na arte ou no jornalismo, os desencontros e as contradições da política sempre pautaram os roteiros de humor, em qualquer quadrante desta terra, que ainda resiste à sua forma esférica. Aqui no Brasil, não tem sido diferente, porque não se revelou incomum que o ofício da análise política fosse transformado num papel de sucesso para humoristas. Até mesmo no restrito grupo dos que fazem protagonismo, em pleno exercício da atividade jornalística.
Quem assim atua e me serve de exemplo é o competente articulista e cronista José Simão, titular do seu hilário "Monkey News", presente no cotidiano do rádio e jornal. Seu exercício de extrair dos absurdos da política o que há de humor parece ser tarefa natural, tamanho o repertório. No entanto, o duro mesmo é formar e refinar essa prática num humor escrachado, enquanto analista de política na sua origem profissional. Craque como jornalista e piadista.
Assumo dele, entre autorias instigantes, uma das suas clássicas expressões: "o Brasil é o país da piada pronta". Daí insisto: Simão tem pleno crédito nessa sua missão e total razão nessa sua afirmação. Como disse numa ocasião pertinente o embaixador brasileiro em Paris, Carlos de Souza Filho (não foi autor o Presidente francês Charles de Gaulle): "o Brasil não é um país sério". Tudo serve de motivo para uma boa piada. Muitas vezes, pronta e embalada.
Nem mesmo a Economia, do alto de uma pompa comum que projeta seriedade, consegue escapar desse humor. De fato, o Brasil costuma desmentir qualquer tese que fundamente rígidos conceitos ideológicos. O país se reflete num laboratório permanente de piadas, que o faz diferente. E que mesmo nesse ato falho de postura, pode até ser capaz de acertar. Embora ocasional e despropositadamente. Exemplos em fartura estão presentes em várias histórias da agenda econômica brasileira.
Como maior campo de provas dos testes mundiais de combate à inflação, o país efetivou distintas experimentos e conseguiu desapontar na maioria das vezes. A História também tem demonstrado que o Brasil tem sido capaz de sobreviver muito além dos padrões e limites dos endividamentos, independente de externo ou interno. Claro que os erros e omissões foram duramente assumidos, mas sempre houve algum " jeitinho" de superação à moda nacional, com alguma pitada de humor. Que também nos digam aqui as velhas frases da "distribuição do bolo" depois de pronto e o "plante, que João garante", protagonizadas pelo então Ministro Delfim. Belos insumos para a sátira de plantão.
Enfim, o que se pode dizer de hoje? Há elementos para um anedotário que derive de Guedes e seu time? Evidente que sim. Repertório não falta para quem se curvou na academia e na vida executiva como defensor ortodoxo do "laissez faireismo". Por conta disso, já não seria digno de humor ter que assumir o "nacionalismo intervencionista e corporativista" do "núcleo duro do Planalto"? E as receitas geradas em nome de uma proposta radical de privatizações, cujos resultados nem fazem cócegas para sorrir? Por essas e outras, a proposta liberal se perdeu na rota.
Embora o atual momento do país não revele motivos para piadas, inspirações não faltam. Sobretudo, num ambiente econômico onde o avião ultramoderno posto na pista sequer conseguiu decolar. O piloto não sumiu, mas o manejo do equipamento ainda lhe parece estranho.
Quanto às piadas, seguem em céu de brigadeiro.