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O desemprego hoje e amanhã

Ilustração: Hugo Carvalho / Folha de Pernambuco

Explicados na coluna anterior os aspectos conceituais e históricos do desemprego, é possivel agora apresentar seu contexto no momento atual da economia brasileira e daí o que poderá acontecer no curto e médio prazos.

Os dados mais recentes do IBGE apontam que o País perdeu cerca de 8 milhões de postos de trabalho neste momento de pandemia. E, pela primeira vez, extrai-se da série histórica o registro que menos da metade da PIT (População em Idade de Trabalhar) está ocupada, além do fato de que o número de empregados com carteira de trabalho assinada caiu para o menor nivel.

A taxa oficial de desemprego bateu próxima dos 13% , atingindo 12,7 milhões de pessoas. Isso se deu com o fechamento de quase 8 milhões de postos de trabalho, conforme os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (a chamada PNAD Contínua).  

Enfim, trata-se da maior taxa de desemprego desde o trimestre encerrado em março/18, quando essa foi discretamente maior (13,1%). O nível do desemprego não cresceu ainda mais porque muitos trabalhadores deixaram de procurar emprego (ou não estavam disponíveis para trabalhar), justo por conta das restrições impostas pela crise sanitária.

E o comportamento do desemprego daqui para frente? O quadro preocupa, pois a reação do mercado de trabalho é o último elemento econômico a se ajustar, mesmo que haja uma retomada do nível de atividade. Por isso, no curto prazo, os programas sociais ainda terão relevância. Mais à frente, um plano consistente de Governo precisará considerar a reformulação do sistema de emprego e a marca imperiosa do envelhecimento da população com efeito notório sobre o seu extrato economicamente ativo.

BUROCRACIA> Não adiantou muito a decisão, ainda em 2018, de aumentar o limite para compras governamentais com dispensa de licitação (de R$ 8 mil para R$ 17 mil). Cerca de R$ 285 milhões foram desperdiçados entre 2018/19, apenas nos processos dessas compras, tamanha a burocracia. Ou seja, foram gastos R$ 440 milhões quando poderiam ser efetuados junto aos fornecedores um montante de R$ 155 milhões. O alto custo da ineficiência da máquina pública é fato, ainda mais quando se sabe que essas compras feitas por dispensa de licitação representam 61% do total e sua participação financeira é menor que 1%. Dar efetividade ao que pode ser dispensado é mesmo garantir mais robustez à clássica ineficiência operacional do setor público.

PREÇO DOS ALIMENTOS> Os consumidores têm notado algo a mais que os alimentos nas prateleiras dos supermercados. Os preços dos mesmos estão maiores, algo constatado na própria essência do aumento registrado na aferição do IGP de agosto. De fato, no lastro de um ano, foi constatado um aumento médio de cerca de 10% nos preços dos alimentos básicos que compõem a cesta convencional. Muito mais que um "efeito psicológico" do consumidor estar mais "dependente" desse item no seu orçamento, essa alta não reproduziu (ainda) algum impacto relevante na inflação, que se apresenta "comportada", na análise da equipe econômica do Governo. Ou seja, a pandemia além de impor uma demanda mais firme sobre os alimentos, em relação a outros produtos, criou efeitos também no câmbio e comércio de commodities, suficientes para reduzirem a oferta e elevarem os preços. Esse é um cenário que impõe mais preocupações com o planejamento setorial e amplas negociações junto ao agronegócio. Um viés técnico bem mais preocupante que os meros contornos eleitorais, que poderão advir da sensibilidade dos eleitores quanto o aumento dos preços nas prateleiras dos supermercados.

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