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O despertar da agenda econômica do Nordeste

Ilustração: Greg / Editoria de Artes / Folha de Pernambuco

No meu exercício do que chamo de "ponderalismo pragmático", enalteci na coluna anterior o relevante empenho técnico e político de Celso Furtado, em favor do olhar o Nordeste brasileiro, pelas lentes econômicas e sociais. Sua determinação por focar nessas métricas e tirar do papel as ações que sustentavam o plano de desenvolvimento então concebido, foi mesmo algo relevante e exitoso. Mas, como já me antecipei, serão cabíveis depois algumas observações críticas.

De fato, nessa linha de pensar e interpretar o Nordeste, vale-me reportar, inicialmente, o "Manifesto Regionalista" de Gilberto Freyre em 1926 e, por extensão, outros valores regionais também trazidos à tona por Câmara Cascudo. Ambos, num esforço intelectual de dar dimensão nacional aos diversos contrastes nordestinos, numa extensa linha vertical que vai do antropológico ao cultural. Por sua vez, o esforço intelectual promovido por Furtado é mais intenso e horizontal. Apoia-se no distanciamento do Nordeste quanto à sua contribuição econômica. Seja pela baixa representatividade regional no PIB nacional. Ou mesmo, por conta de uma população economicamente ativa mais dependente da agropecuária. Ou seja, como economista de aguda percepção histórica e política, ele introduziu sua análise pela "visão estrutural" de um modelo econômico dependente, que se abraçou com o subdesenvolvimento. Portanto, para que houvesse uma estratégia de desenvolvimento,  seria necessário ir além do que pensar nos desafios do semi-árido (extensa área submetida às estiagens). Seria, sobretudo, rever a estrutura econômica assentada no atraso de uma "oligarquia agrária", expandir a fronteira agrícola (na direção do Maranhão) e promover a industrialização.

Até antes da chegada de JK à Presidência, é fato que as experiências com planos tinham sido pontuais. Registre-se aqui os exercícios de Rômulo Almeida e Inácio Rangel, com as proposições de fortalecimento da chamada "indústria nacional de base", que resultaram em casos como a Petrobras e a CSN. Diante dessa discreta referência, o papel que Furtado exerceu como "planejador", logo em seguida, ganhou muita notoriedade. 

De fato, ele retorna da Cepal e de uma passagem breve por Cambridge, para assumir uma Diretoria do então BNDE e daí colaborar com a concepção do ousado Plano de Metas de JK. Uma experiência e tanto, para dela atuar na liderança técnica do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, cujo documento resultante deu origem, inicialmente, a Coordenação de Desenvolvimento do Nordeste (Codene, janeiro/59) que, posteriormente, transformou-se na primeira autarquia de planejamento regional - a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene, dezembro/1959). Desse ofício executivo só se afastou em 1962, quando na função de primeiro Ministro do Planejanento do Brasil, formulou o politicamente  controvertido "Plano Trienal". Mas, já em 1963, retornaria ao comando da sua criação - a Sudene.

Da sua condição técnica de coordenador do grupo que elaborou o clássico  documento "Uma Politica para o Desenvolvimento do Nordeste", Furtado assumiu a missão política de fazê-lo acontecer. Justo nesse seu compromisso de não só pensar o Brasil, mas de se envolver nas soluções teorizadas, ele exprimiu sua convicção de ir além do planejamento. Afinal, tinha também o entendimento de que o enfrentamento dos problemas socioeconômicos do subdesenvolvimento nordestino dependia de vontade política. Era então preciso empreender esforços para mudar aquela realidade dada como estrutural.

Na próxima coluna irei discorrer sobre os pormenores dessa estratégia de planejamento.

POLÍTICA IMUTÁVEL> Iniciamos uma semana menor, sem indícios políticos favoráveis ao clima econômico, que deriva das expectativas em torno das reformas e das tensões ambientais. A incerteza por conta de atitudes e/ou atos mais animadores para o mercado, evidentemente que não inverte essas expectativas. Ao personagem político do "fura tetos", agregou-se agora um outro: o "boi bombeiro". A "classe bovina" terá que suportar essa ameaça insólita de virar "churrasco vivo", embora seja mais real fazer parte agora do anedotário político nacional.

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