O Grande (Re)Encontro
A Oportunidade de Reunir Ícones Não Tem Preço
Encontros, oportunidades e situações que os valham, muitas vezes nos oferecem felizes coincidências. Também não é incomum contar com tudo isso no "roteiro" que a vida nos proporciona, através de contextos inesperados. E até adversos. Um pouco de cada momento desse tenho aqui por contar agora. Vou-me aproveitar da paciência dos leitores para juntar algumas peças do que aqui ap(r)ontei. De qualquer modo, antecipo-me na confissão de que há motivações econômicas que fazem sentido externá-las. Assim sendo, permitam-me exercer essa minha inquietude.
Bem, começo esse roteiro lá atrás, na segunda metade dos anos 70. Uma prima e seu namorado eram estudantes de Economia aqui da nossa UFPE. Ela da graduação; ele do mestrado. E por estarem frequentes lá em casa, o tamanho da minha curiosidade em saber o que era estudar Economia e, até entender o que fazia um economista, só era menor do que a "pressão" familiar, quando o assunto era tratar do meu futuro. Neste particular, o que parecia prevalecer era a força de dizer que a "engenharia" era o curso a trilhar. Só que algo que vinha do "economês" me deixava intrigado.
Os primos me trouxeram, à luz da clássica insegurança juvenil, uma referência de um tal economista chamado Edmar Bacha, que falava de uma instigante "Belíndia". A fábula não vinha mais das ficções dos contos ginasianos. Chegava a mim como a realidade de um Brasil de contrastes, capaz de suportar dois padrões de renda bem distintos. Ou melhor, uma Bélgica rica, tal e qual eu convivia no ambiente da escola privada de Boa Viagem. Diante de uma Índia pobre, tal e qual o velho bairro do Pina/Brasília Teimosa, onde residia e também acompanhava minha mãe, ela na condição de professora e dirigente de escola pública. O interesse pela Economia foi fato. Bacha e sua "Belíndia" reuniram motivações acessórias, embora o protagonismo dos primos nesse meu roteiro tenha sido fator decisório.
Para dar mais tempero motivador, que tal dizer aqui que minha prima foi para Brasília e lá na UNB, não só esteve com Bacha, como um professor pernambucano, que ela tão bem falava. Aqui me refiro a Cristovam Buarque, que lá estava em Brasília, justo porque tinha aceito um convite de Bacha, para compor o quadro de docentes do Departamento de Economia da UnB. De tanto ela falar do Prof. Cristovam, também o levei em conta nas minhas referências.
O tempo passa e traz com ele um mundo diferente, que avança e recua, conforme postas as lentes para vê-lo e daí entendê-lo. Daquelas minhas escutas juvenis, passando pela trajetória de me dedicar um bom tempo à minha formação acadêmica em Economia, precisei do soberano e implacável tempo, para "juntar as pontas" desse enredo profissional.
Como dizem os versos da música de Lulu, "não existiria som, se não houvesse o silêncio". Nesse embalo, precisei do "silêncio tedioso" da pandemia, para encontrar na "sonoridade visceral" do Cine PE, um "encontro" entre ambos: Bacha e Cristóvam. Tal fato se deu na programação de seminários do Festival, em dezembro de 2022. Os velhos colegas de pós-graduação nos EUA, professores da UNB, com atuações políticas distintas e em importantes funções públicas, contaram com um festival de cinema no caminho (numa inspiração deste escriba com a parceira Sandra). Isso para convergirem, de novo.
Neste mês de março, quando comemoro 45 anos do início da jornada universitária, saí de encontros com Cristovam e Bacha para anunciar uma consequência final desse roteiro. Refiro-me ao livro que Cridtovam escreveu, cujo conteúdo é uma entrevista com Bacha. O lançamento aqui no Recife não deverá ser descolado do Cine PE. O Festival foi indutor e faz parte das páginas. Se lançar o livro em si é valioso, reunir ícones não tem preço.