O Império Econômico Delfiniano
A Economia aos Olhos da Contradição Entre o "Poderoso Chefão" e o "Conselheiro Estruturalista"
Quando tomei aquele mínimo e básico conhecimento do significado da economia para o desenvolvimento, entre os conhecimentos iniciais de um mero ginasiano sobre a História e a Geografia do Brasil, estava em conta um certo referencial. Foi algo do meu tempo infantojuvenil, para o qual a política econômica estava à mercê de uma espécie de "Czar". Ou de "Poderoso Chefão". Quero aqui me referir ao Professor Emérito da minha escola da Pós, (FEA/USP): Antônio Delfim Netto, recém-falecido.
De fato, por mais que eu exponha aqui, sobre o papel de uma "velha guarda" de gestores públicos da nossa economia (de Gudin, de Bulhões e de Campos), parece-me que nenhum foi tão poderoso (e midiático) quanto Delfim. Não dispenso aqui essa condição, apenas por um breve olhar que reporte sua evidente inteligência e conhecimento sobre a teoria econômica. Minha ênfase está na sua plena conduta de força e poder, enquanto gestor de áreas econômicas, sob os auspícios de governos autoritários. Foi assim, no durissimo momento das presidências de Costa e Silva/Médice, como um jovem Ministro da Fazenda. Tal e qual na Presidência de João Figueredo, nas funções de Ministro da Agricultura e, depois, do Planejamento.
Minha percepção está aqui dirigida para essas experiências de Delfim como superministro, em contraponto com suas opiniões públicas, posteriores àquela fase de plenos poderes. Francamente, suas atitudes não me parecem tão distantes assim, por mais que o verniz político possa até me desdizer. Se a essência extraída por alguns analistas costuma ser vista como contradição no pensamento econômico, particularmente, entendo que como num traço de ferradura, as linhas apontam para um encontro mais à frente. Tentarei explicar melhor esse argumento, nas poucas linhas que ainda me restam deste espaço.
De fato, por mais que o chamado "milagre econômico", derivado do primeiro ato delfiniano, tenha sido alvo de severas críticas de opositores, há por trás da politica econômica então apicada uma certa dose de "intervencionismo desenvolvimentista". Embora se tenha em conta os maus resultados conquistados, na forma de distribuição de rendas e de endividamentos (externo e interno), atingiu-se um inusitado nível de crescimento econômico, via intervenção estatal. Um bom exemplo dessa essência política, que envolveu intervenção pública, deu-se em 1972, com a criação da EMBRAPA. Hoje, em larga medida, uma entidade reconhecida por todas ideologias.
Para sustentar essa "tese da ferradura", não é de causar espanto que se registre a sintonia recente de Delfim com Lula e, até mesmo, outros núcleos do pensamento petista. O cerne de muitos dos feitos da era delfiniana, por mais que, politicamente, fosse diferente, esteve na raiz do intervencionismo dito desenvolvimentista.
Assim, além de "Poderoso Chefão" da economia no regime militar, coube também a Delfim a missão de "Conselheiro Estruturalista". Cabe-lhe, por fim, um justo requiem, para quem teve tanta importância como gestor público da nossa economia.