O improviso na retórica do "Petróleo é Nosso": nacionalismo de fachada e racionalismo de ocasião
A economia sempre paga a conta pelo populismo político
Após publicar o texto passado sobre o mesmo tema, apropriando-me bem mais dos valores históricos que têm pautado as discussões sobre o petróleo e seus derivados, fui instigado a prosseguir na análise desse velho embate. Agora, num esforço de traduzi-lo para as polêmicas atuais, sob o domínio das visões política e econômica.
Confesso valer à pena tal esforço. Não se trata de uma opção solta, simplesmente pela necessidade de mostrar que o problema e suas soluções, mesmo que no improviso de sempre, fazem parte de um longo processo histórico. O mais importante mesmo é mostrar que o país se condicionou a intermitentes avanços e recuos, como um comportamento serpejante que, nos últimos governos, pouco ou nada serviu para consolidar inovações e mudanças num setor energético sob riscos. Pelo menos, que eventuais transformações se traduzissem ou não por aquele sentido de pertencimento, que está na essência de uma frase emblemática.
A propósito dessa retórica de pertencimento, entendo que seja apenas consagradora de um populismo político de um ufanismo quase que atávico, filho de uma pátria mãe e gentil. Assim, se a tradução fosse ao pé da letra, saber-se-ia do sentido nacionalista de um êxito pleno. Do contrário, ter-se-ia uma conquista mais liberal, numa sintonia com os anseios de um mercado desapegado dos valores nacionais. Como nesses argunentos não se agradou nem a nacionalistas e nem a liberais, o racionalismo que poderia ser o fiel da balança, foi trocado por
improvisos, que se alternam entre o populismo nacional-intervencionista e uma espécie nativa de "laissezfairismo". Ambos dessintonizados com a realidade socioeconômica do país.
Explicando melhor em rápidas pinceladas, alinho aqui os seguintes pontos:
1) quando o assunto é a política econômica que envolve o petróleo e seus derivados, o Brasil tem-se perdido no velho discurso possessivo e piegas;
2) na ausência de planos sintonizados com a importância sustentável de cada fonte da matriz energética;
3) do que ainda possa ser ou não estratégico para o desenvolvimento socioeconômico do pais; 4) da ignorância dos governos no trato com a formação dos preços dos combustíveis.
O exercício público atual é um verdadeiro primor de desencontros. Primeiiro, porque fez uma aposta deliberada no populismo, uma vez que o quadro eleitoral não combina com a consequência de velhos erros na forma de preços gerais elevados. Em seguida, porque se fez do setor energético mais um apêndice de todo descompromisso com o planejamento estratégico. Depois, porque o próprio conceito de estratégico é algo dissipado no ar, cujo inalcance não permite sequer uma discussão sobre temas de mercado (como privatizar ou não algo que parece não ser mais estratégico). E, por fim, por se atropelar leis e acordos, no intuito de se forçar baixa de preços (como se mudar o comando da PETROBRAS fosse solução).
No frigir dos ovos, a economia sempre paga a conta de tanta intervenção inoportuna e de tanto populismo com fins eleitoreiros. E a omelete consequente não tem graça e nem apresenta qualquer sabor.