O Incessante e Acalorado Debate entre Monetarismo e Fiscalismo
O Porquê da Ausência de um Pragmatismo Conciliador
Réguas e freios sempre me vêm à tona em certas discussões acaloradas, sobretudo, quando ideologias se entregam aos confrontos e daí, pelas suas naturezas distintas, exarcebam-se. A régua me permite medir até onde devo ir com os limites. O freio me garante até onde posso chegar com os controles. Exercitar-se pelos conflitos de Keynes e Hayek, enquanto o maior duelo econômico da História, conforme sintetizou em livro Nicholas Wapshott, pode ser ato salutar. Alimenta o ímpeto acadêmico e revela a reserva de sapiência dos protagonistas, com tanto conhecimento econômico transmitido, no pensar de cada um. No entanto, penso que, por influência de certos fatores, as ocasiões que exigem um trato econômico mais delicado, podem ser mais propícias ao que já chamei, em outros textos, de pragmatismo de oportunidade.
Conceitualmente, nada muito diferente do que os economistas avaliam como "custo de oportunidade", resguardadas as devidas condições e proporções entre os casos. Ao pé da letra, para lidar no mundo financeiro entre o poder da escolha e o quadro de escassez, avalia-se um tal custo derivado de uma decisão tomada, nem sempre tão lógica e imediatista. Por sua vez, no caso do conflito ideológico exacerbado entre monetaristas e fiscalistas, muitas vezes o senso que advém da construção político e social, costuma apontar para uma espécie de dosímetro como solução anticonflituosa. Algo que aponte para um grau de equilíbrio na aplicação das distintas teorias. Seria como dispor de um instrumento insólito, que seja régua e freio, em harmonia.
Explico minha ousadia propositiva, diante da exclusividade desse "laboratório", que aqui chamo de economia brasileira. Afinal, as atividades laboratoriais estão firmes e fortes, há pouco mais de uma década. Não faltam ideias de experimentos, sempre aguçados pelo fervor ideológico, à semelhança conceitual daquele velho duelo. Só que a grandeza e a força implacáveis, vistas no passar do tempo, parecem permitir outros meios de fazer com que a "física", que aqui simboliza a economia, funcione noutro nível de entropia.
Vivo hoje numa percepção de que as políticas públicas precisam ser bem ajustadas, mas que busquem seus objetivos maiores de promoverem o bem-estar da sociedade, em especial, dos que vivem no velho habitat da exclusão social. Há horas para por sob a ótica da cisma os sismos que poderão vir dos excessos da tecnocracia e da burocracia. É nesse vácuo que a oportunidade do pragmatismo aparece. Sem que os vernizes ideológicos do monetarismo e do fiscalismo sejam plenamente revogados.
Creio que falta uma dose maior de boa vontade para se ousar. Como diria o grande poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, "o impossível é apenas o sobrenome do medo".