O Investimento na Educação Transformaria Vila Canaã
O Menestrel Resiliente e o Desafio do Apartheid Socioeconômico com Cara de Brasil
O fenômeno da distribuição de renda, que em muitas ocasiões se projetou como efêmero, tornou-se um advento frequente. No cantado gigantismo de um Brasil, capaz de se expressar pela sua natureza dual, entre riquezas desconsideradas e diversidades incompreendidas, constrói-se uma sociedade sustentada por pilares frágeis. Desse jeito, impressiona o quanto a história se repete. Mesmo que se use a década, como unidade de tempo para muitas das análises socioeconômicas.
Apesar do meu desejo cidadão de querer tratar do contrário, diante das histórias de injustiças sociais que se avolumam com o tempo, meu olhar técnico termina por se abraçar com temas ou situações tão adversas quanto surpreendentes. Apesar de que boas lições, com conteúdos disponíveis e eficazes, façam parte de uma terapia objetiva: ousar no foco e na decisão política.
A última edição da revista VEJA traz um exemplo claro e contundente. Trata-se de uma matéria sobre a frágil evolução social de uma juventude carente, instalada num distrito interiorano aqui de PE. O texto jornalístico também revela todo esforço politico e intelectual do - acima de tudo - humanista Cristovam Buarque, cujo tratamento que tenho lhe dispensado é o de "menestrel da educação". Irei ao ponto.
O tal distrito que se fez cenário dessa incompletude de construção social é Vila Canaã, na cidade agrestina de Caruaru. Os personagens são 8. No início, em 2005, crianças. Uma década depois, jovens. E, recentemente, adultos. O roteiro dessa "tragédia à brasileira", tornou-se comum a tal ponto, que serve apenas para reforçar meu argumento sobre o quanto nossa sociedade posterga e dissimula, quando o assunto é estrutural. Neste caso, expresso na forma de uma desigualdade de renda, que se mantém como ferida que não cicatriza. Afinal, os problemas de mobilidade numa pirâmide social pouco mutável, mantiveram-se firmes e fortes. Na essência deles, a certeza de que promessas, governos e políticas não conseguem por em prática mobilidades e transformações, sem que a educação saia, de fato, dos velhos discursos eleitoreiros e planos inexequíveis.
É a partir desse ponto que entre na cena o menestrel.O Investimento na Educação Transformaria Vila Canaã.
O Menestrel Resiliente e o Desafio do Apartheid Socioeconômico com Cara de Brasil
A propósito, uma carapuça que cabe nas mais variadas cabeças da sociedade, porque Vila Canaã foi e contínua sendo uma extensão dos dramas sociais que afligem todos quadrantes do país. E em cada particularidade, há um reflexo sobre o imobilismo educacional, vetor resultante de complexidades. Um bicho de sete cabeças que tem sido mal enfrentado.
É a partir desse ponto que entra em cena o menestrel. Após a passagem do Presidente Lula no local (em 2005) e uma visita, logo em seguida de Cristovam, após sua saída do Ministério da Educação, a história de Vila Canaã passou a ser contada. Ao se completar os 10 anos de imobilismo, Cristovam retornou e escreveu sobre a década perdida, naquele sua velha disposição de apontar a educação como real prioridade. Sua resiliência em torno de apostar nessa solução, terminou por fazê-lo voltar dias atrás. Ou seja, para constatar, duas décadas depois, que o quadro se manteve. Triste e vergonhosa realidade. Dessa vez, levada a um conhecimento mais amplo, a partir da matéria da Veja.
Se a fome e a falta de saneamento básico me fazem um ser envergonhado, por assisti-las em cenas nacionais, em pleno século XXI, contar ainda com esse comprometimento dissimulado, em torno de um sistema educacional transformador, é algo simplesmente cruel. Resultados e números estão aí para revelarem os descasos da sociedade e dos entes públicos.
Que o digam os indicadores convencionais do PISA. A cada ano a educação brasileira leva uma "pisa" das estatísticas. E a gente segue e pisa na bola. Coragem para mudar não é um bem comum.