O Lado B da Comunicação Pública
Quando os Efeitos Midiáticos Domésticos Põem a Economia no Prumo que se Quer
Os movimentos de desconfiança e descrédito a respeito do comportamento das tendências da economia brasileira, lançados ao final do ano, seguiram firmes nessa primeira metade de janeiro. Creio que, por maiores que sejam os riscos que a política econômica projetada possa vir a incorrer, prevaleceram num embate desgastante e infrutífero dois fatos: a indisposição dos mercados em apostar na desconfiança e, sobretudo, a soberba dos agentes políticos no inflamar os choques ideológicos. O resumo que restou desse grave impasse é bem algo consequente de um mundo que tem-se revelado assustador, na medida em que erros tendenciosos de comunicação tem-se colocado como verdades quase absolutas. E, nesse modo de agir, o efeito midiático decorrente consegue por uma economia complexa como a brasileira, no prumo que se quer.
Pois bem, os últimos dias do ano passado e os primeiros do que chegou parecem traduzir algo nessa direção. Afinal, por maior que seja o sentido de uma vigilância operativa sobre os nossos indicadores macroeconômicos, o peso da desconfiança e do descrédito foi posto à mesa. Agora, catalisado por redes, algoritmos, IAs e tudo de mais moderno que está proporcionado pela instantaneidade do mundo intangível.
Para seguir nessa linha, percebi que, até pelas intenções dos embates, o velho pragmatismo tem sido carta fora do baralho. E não por conta de que haja ainda alguns indicadores saudáveis, que não dariam suporte a tantos estresses. Nem mesmo me atenho àquelas doses de mau humor que partem de agentes sociais tão descrentes. Na minha aposta, sigo a trilha prática de olhar para dois fatos que permitiram uma plena excludência daquilo que deve ser a verdadeira arte política: negociar e conciliar.
O primeiro ponto que aqui dou relevo é a expressão de significados que houve com a aprovação da reforma tributária. Mesmo que incompleta por só atacar os impostos sobre o consumo e com validade para 2026, o fato é que sua essência não se traduziu na calmaria que dela se esperava. Afinal, refiro-me aqui a um registro político e econômico dos mais marcantes. Uma conquista que levou mais de duas décadas de discussões. E melhor: consagrada agora, por mais acirrados que também tenham sido os debates, num contexto de institucionalidade democrática.
O outro ponto que reflete as distorções na comunicação dos distintos agentes públicos envolvem posturas perigosas, sobretudo, quando se mira para uma economia mais estável. Afinal, contribuir para agitar a sociedade civil e os mercados com informações manipuladas, para efeito de possíveis vantagens eleitoras, parece-me a essência do absurdo. O episódio que envolveu a dinâmica do PIX, esse exercício nativo e cativo de um meio de pagamento de amplitude democrática, foi uma "bola fora", de descabida e estúpida irresponsabilidade política. Afinal, nada de fora do contexto burocrático que embasa a política governamental, foi colocado como sinal de provocação da normalidade. Dar interpretações maliciosas de rotinas administrativas consumadas há décadas fez da má fé pública um ato político-eleitoral extemporâneo e criminoso.
Enfim, o fato concreto desses ensaios midiáticos, enquanto o ofício político segue por desconsiderar a oportunidade da boa negociação, termina com abalos sobre a conjuntura econômica. Não servem como bons exemplos.