O Que 2023 Projeta São Pontos de Interrogação?
Quando a Renovação da Esperança Precisa Ser Maior do que a Dúvida da Confiança
Embora traçada na poesia romântica de Gonzaguinha, ouso trazer para uma prosa realista os mesmos pontos de Interrogação que inspiraram os versos da música que lhe abriga como título. Afinal, "são perguntas tão tolas de uma pessoa, pois são meros pontos de Interrogação".
Aliás, escrevo a coluna hoje com esse mesmo sentimento, que foi também muito bem expresso pelo mestre Edmar Bacha, quando aqui esteve, compondo a agenda do seminário sobre cenários econômicos, nao ocasião promovido pelo Cine PE. Na exposição que fez no evento, resumida em forma de texto publicado no caderno de opinião desta Folha de PE, Bacha reflete sobre três pontos, diante das oportunidades e dos desafios que cairão sobre os ombros do novo governo. Justo seu terceiro ponto é o da interrogação, haja vista sua insegurança em apontar o que fará a equipe econômica diante de tantos desmantelos.
Minha interrogação não é diferente na sua essência ou conteúdo, mas me faz exigir de ambas. Seja da simplicidade singela da composição de Gonzaguinha. Ou mesmo, da dúvida tecnicamente precisa, que parte da experiência acadêmica e pública do Professor Bacha. Numa insólita mistura dos pontos de cada um, apresento-me como "mezzo a mezzo", mas sem perder o sabor da hesitação e insegurança.
Há pouco mais de 48 horas para a instalação de um novo governo que, em campanha, traduziu-se fortemente pela amplitude da preservação da democracia, o sentido do que esperar da política econômica é mesmo uma incógnita. E são tantas as variáveis capazes de explicarem o contexto, que o ato de recorrer, pura e simplesmente, ao perfil de uma equipe em montagem é muito pouco ou nada. Cabem-me expor, como entradas para uma boa degustação, alguns itens, nem sempre ao sabor desejado. Enfim, são pontos de interrogação:
1) como harmonizar as distintas essências que emanam de Haddad e Tebet, em se tratando de pensamento econômico?
2) Se nessa experiência agregamos a outra banda do antecedente Ministério da Economia, representada pela pasta que coube ao Vice Alckmin?
3) Como essa harmonização tão vital para as expectativas econômicas, será gerida diante de três potenciais candidatos à presidência em 2026?
4) Como lidar com os aspectos econômicos externos pouco favoráveis, num eventual ambiente interno de conflito nos pensamentos?
Parece- me claro que essas e outras dúvidas irão pairar nos céus da esplanada, a partir da próxima semana. Minha torcida fica por conta do desejo de assistir à renovação da esperança, diante de uma situação de confiança, que se revela imprevisível. A reconstrução se inspira no "S", enquanto foco: sorte, sacrifício, sapiência e sucesso.
Nesse espírito de reconquista da velha confiança, meus votos de que os leitores, assinantes e mesmo a quase infinita maioria que se mantém longe do acesso à minha escrita, de que todos tenham em 2023 um ano melhor. E que seja repleto de realizações.