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O tiranossauro da ONU e um ciborgue brasileiro exterminador do futuro

De protagonista a vilão ambiental, o desafio de um pária na COP 26

Tenho sido incitado por leitores para inserir nos textos da coluna alguma referência ao cinema, como tenho feito com a literatura. Talvez, uma forma de demanda que mira numa das linhas da minha identidade profissional. Entendo, assim, como um reforço natural à minha simples intenção de minimizar a aridez convencional dos textos de economia.

Como costumo reagir a apelos expressivos com a fleuma necessária, julgo que a oportunidade do recurso retórico, quando posta com o devido equilíbrio, colabora com o resultado da escrita. O melhor momento é sempre aquele onde há sintonia para enquadrar o pensamento, sobretudo, num texto de conotações econômicas que precisa ser mais leve para o leitor leigo.

Tenho agora um momento ímpar. Sintonia perfeita, por reunir tudo que é necessário: tema atual, forte identidade com a economia e um fato ocorrido que me permite usar o cinema como recurso de linguagem. Posto isso, atenho-me às minúcias do texto.

Sobre a atualidade do mesmo, faço coro à atenção dispensada ao debate que decorre da COP 26, direto de Glasgow. Essa vigésima sexta conferência da ONU sobre as mudanças climáticas está cercada de expectativas e preocupações. Não só pelo passado recente de descumprimento de acordos, bem como, por todas consequências climáticas já sentidas pela natureza. Nessa circunstância inglória, cabem urgências por decisões políticas imediatas, capazes de proporcionarem conquistas concretas. Uma resposta firme de decisões que faça acontecer o respeito por questões como as emissões de carbono e as devastações de importantes biomas. Atingiu-se um estágio no mundo, que diante do atual contexto ambiental, não dá mais para ficar do lado dos problemas, à mercê de discussões histéricas e estéreis. Chegou-se, enfim, o tempo para atuar no jogo a favor das soluções. Mesmo que, diante da força desse alerta, já se perceba que esse dever de casa esteja considerado. Bem mais por iniciativas isoladas de indivíduos, organismos e corporações, conscientes dessa missão de preservar o planeta e garantir um futuro melhor para as próximas gerações. 

Quando trago agora esse tema para o contexto da economia, dada a relevância do mesmo nas distintas relações econômicas, o papel do poder público adquire um significado ainda maior. Isso quer dizer que a pauta da sustentabilidade precisa ser seriamente considerada e não só como plano estratégico de desenvolvimento. Afinal, ela carece de alinhamento na prática cotidiana da política macroeconômica, pois sem esse compromisso, os resultados traçados não serão alcançados.

Nesse padrão de compromisso, infelizmente a aposta do governo brasileiro foi seguir na contramão. A extensão da postura negacionista no campo ambiental empurrou ainda mais o país para a inaceitável condição de pária mundial. Um atributo também fortalecido por outras ações ou inações, que são consequências de uma política externa desconectada com a realidade. Ou seja, diante de um evento com o peso da COP 26, o Brasil se apresenta como coadjuvante de um vilanismo ambiental assumido. Portanto, bem distante de um protagonismo natural, que lhe caberia facilmente, caso não fosse agora um contumaz descumpridor de acordos e metas. Pior: sem que a liderança máxima lá estivesse e diante de uma improvável postura de humildade, para ser diplomático e assumir os erros, participa das atividades com justificativas voláteis para equívocos e omissões. Apresentar números que refletem uma espécie de "pedalada ambiental" é o "fim da picada", pois transparece uma forma de soberba que tenta fazer de idiota quem está do outro lado. Justo para os que só apostam nas soluções. 

E o filme? Bem, a ONU foi buscar no Parque Jurássico um tiranossauro, para mostrar que esse protagonista hollyhoodiano foi dizimado do ambiente pelos efeitos das mudanças na natureza. Para não perder o fio da meada e se manter nessa soberba indesejável, a delegação brasileira poderia se mostrar como um organismo cibernético (ciborgue) e ao estilo cinematográfico de "exterminadores do futuro". Ao consagrar essa verdade, apenas daria um mal exemplo: da realidade servir de inspiração e estímulo para um triste filme de ficção científica.

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