O valor Anitta: entre a artista popular e o remédio populista
Parece-me que o tempo de tratar a economia de modo impermeável está em melancólica despedida. Até recentemente, para lidar com a economia se exigia uma sisudez formal, uma espécie de comedimento arraigado a valores imutáveis. No geral, isso se traduzia numa forma de comunicação maniqueista.
Por um lado, o universo dos que exerciam o cotidiano da economia, na língua oficial do "economês". Do outro, o universo dos que assimilavam essa soberania da economia, na língua oficial do "assimilês". Um embate silencioso - e daí, pacífico - entre agentes ativos que ditavam as regras econômicas para a sociedade, contra agentes passivos que fizeram com que essa mesma sociedade as acatasse sem reações.
No entanto, o mundo parece se mover agora noutra direção, para bem além desse rijo "quadrado", no qual a economia ficou submetida. São avanços que sinalizam para outra perspectiva, de oxigenação de conceitos e valores. Assim, antes de me propor a comentar dois fatos correlatos, faço aqui um registro particular. Os textos que expus nesta coluna, na semana passada, foram uma discreta moldura do retrato atual da mudança. Recebi comentários favoráveis daquela minha intenção em mostrar a face humorada da "piada pronta", em se tratando de velhos temas econômicos que voltaram a assombrar. De fato, sinais de novos tempos, que têm propiciado uma disposição em tratar a economia com mais leveza analítica.
O primeiro aspecto que agora realço representa a corajosa decisão de uma instituição financeira em contribuir para o rompimento com tabus e preconceitos inexplicáveis. Refiro-me à campanha publicitária do Santander, que traz no seu protagonismo a figura midiática de "Gil do Vigor".
Muito mais que uma jogada de marketing e também pelo fato de ser Gil um economista a iniciar um Doutorado nos EUA, está o fato evidente de mostrá-lo do jeito que ele sempre foi: espontâneo e aguerrido, do alto da sua orientação sexual. Para mim, a ousadia dessa comunicação, que partiu de uma grande instituição financeira, foi quebrar duplamente um tabu: 1) tornar mais natural o contato com o público; e, 2) revelar uma criatividade diferenciada com pleno respeito à diversidade. Méritos cabíveis ao banco e seu agente de comunicação.
Nessa linha da ousadia, outro lance foi uma inédita jogada de marketing, que também quebra tabus e põe o debate econômico fora do alcance do seleto grupo de "especialistas". Refiro-me à arrojada decisão do NU Bank em convidar a "pop star" Anitta para compor seu restrito Conselho de Administração. Parece-me que essa instituição financeira entrou no mercado para revolucionar, tamanha a capacidade que tem demonstrado para inovar, diante de um setor que exerce o melhor exemplo do que possa ser economicamente impermeável a rupturas.
Em pouco tempo de atuação, o NU Bank se tornou protagonista. Trata-se de um banco hoje embasado em valores convergentes com os conceitos de um mundo plural e sustentável. Que apesar do pouco tempo, conquistou um surpreendente valor de mercado, estimado em US$ 30 bilhões. Uma instituição "atrevida, por atrair para seu núcleo societário o mega investidor Warren Buffet. Nesse exercício audacioso tem revelado o que deve ser o "novo normal".
E com esse repertório, deu ainda mais consistência ao seu modelo inovador, pela convocação de uma "pop star" para o time. Isso não só expressa um simbolismo midiático pela decisão em si. Afinal, nela há o sentido de ampliar o debate, de ouvir opiniões e da acatar pensamentos sintonizados com o plural e sustentável. Ousadia de quem enxerga longe e que se propõe a romper paradigmas.
Enquanto a aposta do NU Bank é pela Anitta popular, lamenta-se que na esfera pública o caminho foi apostar muma homônima com cara de placebo. Diante de uma pandemia tratada sem o rigor do planejamento, a banca aqui foi a teimosa opção pela contestada remediação precoce. Nu mesmo sobrou como um conceito impróprio, bem aplicado a uma sociedade vitimada pelo malefício da politica sanitária adotada.
O banco fez sua escolha de Anitta. E na dose certa.