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Os exterminadores do presente são extensores do passado: tutorial para sobrevivência nas crises

Por que o "apagão" derivado do embate político antecipado restaura fantasmas do passado?

Nasci em 1961, período de instabilidades na política e na economia, protagonizadas por um governo de iniciativas confusas e erráticas, que só se aprofundou numa pauta de costumes. Mesmo que  democraticamente eleito e diante de seguidores fanatizados, cabe-me destacar dois resultados registrados pela História: uma surpreendente renúncia e uma combinação tripla explosiva. Neste caso, crises na política, na economia e no tecido social. Enfim, o governo Jânio e o movimento janista,  articulados numa sociedade em profunda transformação (demográfica, cultural, urbana, etc.), representaram o primeiro grande marco de uma crise multidimensional de extensão nacional. Detalhe: algumas semelhanças com a atualidade contrariam qualquer ensaio que se revele como ficção. As diferenças ficam no ato solitário de uma renúncia  e na capacidade intelectual dos líderes. 

Nesse ritmo, infância e juventude se seguiram num quadro dos mais estúpidos: uma convivência harmônica com as dimensões daquela crise. Nisso, consolidou-se o tempo dos chavões de sermos "um pais do futuro", mesmo que, paradoxalmente, as soluções do presente  fossem sempre improvisadas e inacabadas. Levamos duas décadas para restaurar uma democracia precoce com traços de fragilidade (1985) e três anos para providenciar um verdadeiro plano de estabilização econômica, com efeitos sociais (1994). Portanto, nesse meu espectro de vida, metade dela foi para encarar o desafio de uma "cultura de crise" impregnada. O Plano Real, suas consequências sociais e a estabilidade política em curtos três mandatos, surgiram como um raio de esperança com olhos para um Brasil renovado. Eis, então, o fato real (também cabe aqui o sucesso da nova moeda), que gerou a convicção de que os sonhos podem não ser miragens. Apenas para seguir no raciocínio daquela tese da "utopia realista", provida pela emoção e disciplinada pela razão. 

Bem, olho agora para o presente e dele ouso esboçar um projeto de futuro para este Brasil tão resiliente. Penso que a oportunidade é válida, pois o mundo tem nos ensinado através dos extremos que aqui interessam. Um primeiro, aponta para os avanços científico-tecnológicos. Um outro, sinaliza para os recuos, bem perceptíveis com a dimensão crítica que derivou da pandemia. Enfim, são lições que precisam ser consideradas, para que se dê início a algum plano nacional. 

O que se revela como preocupação para quem acredita (ou queira acreditar) naquela tal "utopia realista", é que o embate político antecipado tem propiciado um verdadeiro  "apagão". Isso mesmo. Um completo abandono de um debate, que envolvido pela "cortina de fumaça" da guerra eleitoral declarada, só propicia a retomada dos velhos problemas, da futilidade das ideias reinantes e da falta de compromisso com estratégias comprometidas com a realidade. Tenho a sensação de que esses "guerreiros da politica" fazem jus hoje à  definição de "exterminadores do presente". Pior: agem em complemento como autênticos "extensores do passado".

De fato, ao darem às costas para os desafios econômicos e sociais do momento, esses atores trazem para mim - e outros tantos de igual pensamento - uma recordação crítica que se imaginava superada. Que o digam expressões antes minimizadas: inflação de dois dígitos, juros celestiais, desemprego em massa, pobreza absoluta e fome desumana. 

Os fantasmas do passado voltaram para ficar. É preciso por agora no receituário um tutorial para sobreviver às dimensões da crise.

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