Por que a Agenda Política Costuma Ignorar a Urgência Econômica?
Os Rigorosos Preceitos na Economia São Oportunistas?
A semana se encerra diante da surpresa dos agentes econômicos, com a prorrogação do anúncio de uma tão esperada "âncora fiscal". As lúcidas intenções técnicas (até antes da reunião do COPOM) e os discretos movimentos políticos, que ainda se mantêm sinalizados pela atual equipe econômica, terminaram por gerar, nos mercados e em parte de sociedade, um clima inesperado dw frustração. Ainda associado ao imanente nível de expectativas, que deixa a economia com o "freio de mão puxado".
Isso ocorreu por conta da disposição do Presidente Lula de só tomar alguma decisão a respeito do assunto, após seu retorno de viagem à China. E, certamente, foi também um assunto posto sobre a mesa dos "gélidos" e distantes deliberadores da política monetária, reunidos na última quarta-feira. Nada tão preocupante se houvesse um "céu de brigadeiro" entre os pólos que protagonizam a economia e a política.
No primeiro caso, com o pragmatismo fundamentalista dos que só enxergam, com olhos nos retrovisores juros estratosféricos Seja pelo passado inflacionário, assim como, pela cultura da farra dos gastos públicos. No segundo caso, por conta de um lado emocional que ainda sobrevive em clima do palanque, estão os que agem sem apelo à urgência, no trato das questões econômicas mais delicadas.
Dentro desse contexto antagônico, o que proporciona uma certa preocupação, é que o Presidente Lula, diferente da sua prática conciliatória presente no primeiro mandato, vez por outra assume um discurso que causa tremores e arrepios nessa nossa inconstante economia. Pelas incertezas propagadas nos mercados e pelas circunstâncias distintas de arriscados conflitos políticos, o ideal seria agir com equilíbrio emocional e muita capacidade de persuasão. Julgo que sair dessas linhas é por o trem sob risco iminente de descarrilhamento.
Diante desse fato, alguns dirão que não há novidades na atitude de postergar decisões, justamente aquelas que possam dar sentido àquelas posturas anti-mercado. Nesse ritmo crítico, também dirão que, além de forçar a expansão dos gastos, os desejos pessoais do Presidente são assim expostos, na intenção de por em desgaste a independência de uma política monetária, que ele julga incapaz de baixar os juros. É mesmo um mundo complexo, com tudo junto e misturado.
Nesse embalo, por maior que seja a validação da ênfase presidencial nesse modo de discurso, penso que há alguma margem para minimização dos riscos que advém de uma vontade extrema, de se jogar o "tudo ou nada". Isso pode ser avaliado pelas lentes da equipe econômica, que tem lá sua proximidade com o Presidente. Através dela, é necessário por o dosímetro certo para alertá-lo de uma opção por regras econômicas, que também tem efeitos deletérios sobre a engenharia política. Uma opão que merece ser bem calculada, porque a dependência que há, em favor do legislativo, bem fundamenta uma relação longeva que, certamente, não combina com rompantes e imediatismos.
É claro que a antecipação do anúncio da proposta fiscal não seria em si algo determinante na intenção do COPOM em baixar os juros. O pragmatismo frio dessa instituição sempre releva tendências observadas no controle da inflação e na conjuntura externa. E foi isso o que alegou para tornar a taxa prevalecente como mantida no mesmo nivel elevado. Nessa cena de "cabo de guerra", entre tantos "puxa e estica", quem sabe a apresentação dos pilares do tal arcabouço não servisse de balizamento para um minimo recuo de 0,25%.
Bem, quero dizer com esse despretensioso exemplo que o gesto e o trato seria um exercício em mão dupla. O governo revelaria, sem arrodeios, seu compromisso com a urgência fiscal. E as Autoridades Monetárias vistas pelo BACEN e COPOM, exerceriam o bom oportunismo, de quem se rende ainda mais às negociações. Bem ao contrário de velhas ações oportunistas, que geravam conflitos e dosavam políticas exageradamente restritivas.