Por Uma Questão de Ponto de Vista
O PIB e a Relatividade da Percepção na Descrição de Russel
Não é incomum que, vez por outra, economistas ou profissionais comprometidos com a análise econômica, vêem-se surpresos com as estatísticas colhidas num certo período de tempo. Mesmo que no plano do inesperado, há sempre algum espaço por comemorar, quando os números se revelam favoráveis.Todavia, perplexidade mesmo, é quando o embate ideológico consegue desdenhar do resultado e transforma a façanha em algo efêmero, lance de sorte ou coisa que assim o valha.
De fato, alguns números gerados pelas pesquisas econômicas do IBGE têm contrariado, até mesmo, as mais sutis expectativas otimistas. Os últimos registros de crescimento econômico trazem não só uma inversão nas expectativas. São reveladores também de uma consistência que consagra uma crença estrutural sobre a capacidade de reação dos agentes econômicos. Por mais que se espere o trivial, há sempre um outro jeito de acomodar tudo do que é capaz de se fazer, no bojo da diversidade produtiva nacional.
Exemplo? Se criar expectativas de crescimento já seria muito para alguns cidadãos, vê-las acontecerem de outro modo, causam espanto ainda maior.
O caso desse registro de crescimento, da ordem de 1,4% no segundo trimestre tem lá suas particularidades. E essa ideia de acomodação, que se revelou mais ajustada à nossa realidade, que alcançamos esse padrão, longe de um comando ditado pelo dinamismo do agronegócio. Esse setor aliás, afetado por secas e enchentes, gerou expectativa contrária. O dinamismo, dessa vez, atingiu outras atividades, em especial, a construção civil e o consumo.
Mesmo que me mantenha longe dos que torceram ou apostaram contra, é natural que diante das mesmas formas de enxergar a complexa diversidade da nossa economia, é preciso cautela mesmo nos atos de comemoração. A grandeza de uma economia que exige essa preocupação está, por exemplo, na preocupação do quanto essa evidência pode contribuir sobre questões outras, como as fiscais e monetárias. Históricos de inflação de demanda, por exemplo, fazem da insegurança de alguns analistas toda uma preocupação sobre o que irá acontecer com os gastos públicos e o comportamento do referencial dos juros (a taxa SELIC).
Pelo que se extrai desse breve comentário, tudo passa a ser uma questão de ponto de vista. Um contexto que me transporta até uma alegoria de Russeu, na qual "a mãe cautelosa de uma minhoca ensina para seus filhos que o "perigo não está entre os leões e panteras, e sim, com relação às galinhas e aos patos". Por isso mesmo, é sempre oportuno encarar o papel da relatividade da percepção. Com o devido zelo e o mérito de se relevar as conquistas, um recurso cabível nesses ambientes de raros entendimentos comuns.