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Segundo ensaio de "Fake Marketing" e a mitomania na economia

As mentiras compulsivas que deixam a economia vulnerável

Seguindo a ideia posta na coluna anterior, a mitomania (mentira compulsiva) de hoje está direcionada para o manejo recente da política econômica. Não se trata de uma fábula das Arábias, mas o mantra da mentira correu solto em Dubai por esses dias, quando o governo ecoou seu "fake   marketing" a respeito da estabilidade econômica, que por aqui ninguém crê e aposta. Um esforço inútil para efeito de captação de investimentos externos, porque nada pode ser mais propagador nos mercados, do que conversa fiada de gestores públicos de conduta contrária à verdade. 

Para piorar ainda mais essa postura, outras hipocrisias são jogadas no colo de eventuais parceiros. Nesse particular, considere-se uma falsa ideia de controle e segurança ambiental no Brasil, que todos já sabem ser absolutamente irreal. Parece que aquela velha tese de Rousseau sobre  "o doce sentimento da existência" foi de um tempo em que a economia brasileira se expunha lá fora pela altivez de uma diplomacia respeitada, através da qual o país se baseava em estatísticas confiáveis, bem como, em compromissos com a pauta ambiental. Infelizmente, aquele doce sentimento foi transformado hoje num amargo pesadelo.

Insiste-se em mostrar lá fora uma outra realidade. Parafraseando uma rádio local, o "Brasil falando para o mundo", revelou -se agora uma mentira das Arábias, o mais puro "fake marketing". Talvez caiba melhor um slogan próximo, algo como "da bolha para o mundo". Afinal, as atitudes governamentais feitas fora do Brasil, mais do que parece uma extensão do mesmo discurso politico dirigido à militância. Creio que seja exatamente isso o extrato do que o governo 'vende" lá fora.

Refiro-me a dois depoimentos em Dubai que trazem significados relevantes para a economia. Primeiro, cabe comentário sobre as expectativas de crescimento do ministro da economia. Depois, vale também o registro sobre o que reafirmou o Presidente da República sobre a situação ambiental do Brasil, mais precisamente, a respeito da Amazônia.

Ao pedir confiança no Brasil para uma platéia de potenciais investidores, o ministro Guedes fez um registro de o crescimento da economia brasileira estará acima da média mundial. Tão ruim quanto uma informação errada, que contraria os números de instituições internacionais como a OCDE e o FMI, é exercer a tribuna para mentir na difusão dos números. Ato falho e aético para se fazer acreditar que o "marketing" do país pode ser mostrado, mesmo que seja pela manipulação dos números. É também querer apostar numa ingenuidade incomum, justo no ambiente de quem está acostumado a lidar com negociações nos mercados. 

Por sua vez, o presidente da república não abandonou sua prática discursiva inoportuna para tribunas internacionais, quando costuma renovar seu negacionismo científico e cultural. Não bastasse a defesa de uma insipiência inconformada e incontrolada a respeito da pandemia, ele restaura, em cada destino Internacional por onde passa, seu desagrado em tratar de questões ambientais. E faz isso, também negando seus órgãos governamentais e até entidades internacionais. Essas apontam preocupadas para a evolução dos desmatamentos e queimadas que, repetidamente, atingem nossos biomas.

Em manifestações expressas em dose dupla, como as ocorridas em Dubai, oriundas justamente dos dois principais protagonistas da cena econômica nacional, há de se realçar o nível de gravidade dos gestos. Mostrar um desempenho econômico cuja realidade não confere e, por muito menos, os números que confirmam tal fracasso é corroborar a compulsão pela mentira. Por si só, tudo isso se traduz numa péssima imagem do presente. E, a partir daí, mostrar-se ainda o descaso com a política ambiental, é simplesmente comprometer o futuro. Erra-se no varejo da política econômica e ainda se joga para o alto qualquer mínimo compromisso com a tão almejada sustentabilidade.

Parece mesmo que vivemos o tempo de um "juízo final diário", como dizia Albert Camus. Mas, no bom exercício de um olhar equilibrado para o futuro, sem a tolice do otimista e a chatice do pessimista, vale seguir o mestre Ariano e apostar num "realismo esperançoso". Afinal, apesar de tanta instabilidade, sempre há como manejar a economia e trazê-la de volta aos trilhos.

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