Sem Narrativas de Quebradeira
A Economia Brasileira Carece de Agentes que Exerçam o Papel de "Homo Libratum"
Certas horas tenho que admitir que o brasileiro também exerce suas diferenças individuais mais cruéis, naquele realismo de sociedade que ele próprio construiu por detrás do espelho. Faz jus àquilo que a genialidade literária de Machado a Ariano tratou nas obras como o dilema do Brasil verdadeiro contra o Brasil oficial. E, em tempo de rachas ideológicos, as narrativas constituídas entre o real e o imaginário, só reforçam a pimenta dos temperos e a picardia das enredos. Até na economia.
Recentemente, externei minha compreensão sobre a ausência de humanização nas atuais relações sociais. Que o "homo libratum" seria uma evolução do "sapiens", em nome de um exercício de ponderação. Ou melhor, pelo equilíbrio na escala de juízo de valores.
Nessa pegada, dada a atual conjuntura econômica, pressinto que há demonstrações de imobilidade e involução. Paira no ar um recurso apropriado, que nos permite entender tantos acirramentos, quando só se dá valor à defesa de pensamentos únicos. É o desperdício de querer simplificar ao seu modo o que por natureza é complexo. É também a desconsideração de um oportunismo pragmático, que pode assimilar pontos que fazem parte de correntes distintas.
Na realidade, as recorrências, os contrastes e as dificuldades são elementos de tantas intensidades repetitivas no Brasil, que pelo tempo perdido e pela renovação desse mesmo tempo, não há mais como deixar de ser consentâneo e efetivo. Exemplos estão por ai.
Para ir direto ao ponto central foco numa velha desconfiança: a reforma fiscal. Um tema que, impregnado na análise econômica por décadas, extrapola governos e ideias. Espasmos de controle do deficit, para o bem e para o mal, têm feito parte do repertório político. O que não se tem levado em conta, diante do roteiro histórico existente, é justo o equilíbrio de saber como avançar, no desejado controle, dado o jogo do poder. A intenção é saber dos excessos que criam expectativas e até ondas especulativas, traduzidas das marolinhas aos tsunamis. De um lado, consideram-se os riscos de se perder ds vista a meta inflacionária e por ela ter que assumir os dissabores com as taxas de juros e câmbio. Do outro, dispensam-se as reações negativas sobre a natureza do Governo, em combater velhas questões estruturais, em tantos modos de desigualdade.
O danado desse contexto é que se há o desprezo pela ponderação, a percepção sobre o uso de um dosímetro, nem está ao alcance. E não é por uma questão sucedânea, de escala natural, depois da opção pelo equilíbrio analítico. Muitas vezes, a raiz daquilo que parece inalcançável faz parte de um sutil jogo de interesses. Ou mesmo, de um modo de exercício de poder que estabelece quem manda e quem obedece. Não me parece crível, por exemplo, análises abertas de consultores, que atendem com competência os negócios naturais do mercado. Ou será, que suas opiniões são isentas o suficiente, para imprimirem o equilíbrio e a dose certa, enquanto retrato da conjuntura? Interessante que alguns, quando em funções públicas, não foram capazes de executarem o que hoje defendem. A banda que toca no ambiente público, nem sempre é a que anima os bailes privados.
Dito isso, se não há espaço para governos gastadores, também não há o porquê de se ignorar avanços e forçar más expectativas. A quem interessa uma quebradeira? Insisto na tese do "homo libratum". Ou seguiremos com a dopamina de narrativas.