Sinais monetários: de fora e de dentro
No ambiente de uma análise de conjuntura, com viés macroeconômico, os sinais emitidos pelas autoridades monetárias têm um enorme significado. De fato, esta semana que se encerra trouxe aos mercados algumas sinalizações importantes, tanto pelo que se observa fora do contexto da economia brasileira, como pelo que se pode extrair daqui de dentro.
O momento pelo qual passa o ambiente externo está muito atrelado aos movimentos políticos nos EUA. Numa semana de ratificações da vitória de Biden nos colégios eleitorais "questionados" por Trump, divulgação de nomes que comporão a nova equipe de Governo e a sinalização para início da transição os mercados reagiram muito bem. Mais animador ainda foi o anúncio do nome de uma "dovish" para executar a política econômica como Secretária do Tesouro: a ex-presidente do Reserve Federal, Janet Yellen. Vale dizer que esse anglicismo é uma expressão de mercado para quem tem a postura de uma política menos austera, que foca numa taxa de juros menor. Ao contrário da postura 'hawkish", que prega mais rigor na condução da política econômica. Na combinação entre o ideário dos democratas e o combate aos efeitos da pandemia, a escolha por Janet Yellen reúne capacidade técnica e sintonia com o que o mercado aponta para esse momento de recuperação.
Na verdade, esse clima de euforia corrobora um sinal, na forma de um plano mais ousado e ambicioso, no qual os democratas reafirmam suas intenções de por em prática uma recuperação sustentável da economia dos EUA e daí tentar trazer a reboque os parceiros comerciais ali(nh)ados. Parece se tratar de um propósito bem determinado, mesmo que essa opção possa permitir algum nível tolerável de inflação interna.
É fato, porém, que esse clima animador que se vê lá fora ainda não contagiou plenamente o ambiente econômico interno. Sequer houve o reconhecimento da vitória de Biden, da parte do governo brasileiro, numa postura diplomática politicamente deselegante e comercialmente comprometedora. A isso, somam-se ainda as incertezas que decorrem de uma política econômica sem resultados concretos.
Noutras palavras, os momentos que explicam algumas expectativas favoráveis têm sido muito mais por decorrência daqueles movimentos externos. Pouco ou nada tem a ver com aspectos mais concretos, que venham sinalizar a favor dos esforços pelo equilíbrio fiscal, este sim o que se pode chamar de "nó górdio" da economia brasileira.
Enquanto esse impasse fiscal se apresenta ainda como insolúvel, os "fantasmas" aparecem ocasionalmente em cena. Não bastasse a reversão das expectativas inflacionárias com a alta do IPCA, incendiada pelo preocupante aumento nos preços dos alimentos, vem a público o Ministro Guedes alarmar o mercado com insinuações de "hiperinflação à vista". Talvez sua tática tenha sido um mero sinal de alerta pela inércia das refornas fiscal e administrativa. No entanto, pela improbalidade desse risco, trata-se de uma forma de postura que só serve para inflamar o mercado, no sentido de jogar na lona as frágeis expectativas que se revelam favoráveis.
A economia brasileira patina em terreno que requer firmeza. Não há como desconsiderar esse momento, que carece de equilíbrio e passos seguros. Está na hora de enxergar os sinais e ousar.