Sob(re) os efeitos dos déficits
O embate entre economia e política diante do desafio de zerar os déficits fiscal e social
Uma cena frequente e esperada, que tem desafiado o Governo, refere-se ao embate entre os protagonistas da Economia e da Política. Tudo em torno de um ambiente, que precisa melhor compreender SOBRE os déficits fiscal e social, justo porque a real essência desse embate vive SOB pressões distintas, entre equilibrar as contas públicas ou resgatar a dívida social. É como vivêssemos na mais verdadeira prática da teoria do trade off. Sim, aquela mesma, tão comum nos ofícios dos que se atrevem a entender as armadilhas da economia.
Assim, enquanto fato recorrente, não chega a surpreender a implicância desse embate, cujo capítulo foi o tema da semana. Mais uma vez, criando oportunidades para instabilidades nos mercados, trazendo de volta um clima de frustração de expectativas. Justo quando o céu parecia estar do jeito que os brigadeiros gostam. Ou mesmo, como aquele mar de calmaria, ao bel prazer dos navegantes.
Dada a complexidade do tema, por conta de duas necessidades estruturais, entre equilibrar as contas públicas e resgatar a dívida social, há um ponto crucial: compreender os dois contextos e conduzir a solução de modo racional. Isso mesmo, sem extremos, com capacidade de saber se negociar tanto perdas como ganhos. Neste aspecto, cabe aqui meu modesto reconhecimento ao esforço hercúleo da equipe econômica, que sob pressões antagônicas, tem-se mantido como equilibrista em corda tênue. Para todos que tinham dúvidas sobre esse perfil conciliador do Ministro Haddad, parece-me notório que ele tem buscado esse papel. Um feito que, aliás, ele tem exercido com as devidas provas de habilidade e competência. Sem a arrogância do poder e com empatia nas relações interpessoais.
Embora possa soar estranho o mau entendimento desse avanço, a falta de compromisso com as questões pétreas que pedem soluções, é algo típico para os que inflamam o acirramento, pois insistem em não desarmarem os palanques e desligarem os holofotes. Quero dizer com isso que a pressão política em mão dupla, que só mira para uma face da moeda (a escolha de opção diante daquele trade off), só serve para acirrar os antagonismos. Considerados os fatos de ser 2024 mais um ano eleitoral e diante desse clima de palanque, o embate fica desbalanceado, pois o peso político assume um papel de maior prestígio. Sobretudo, para quem está na cadeira presidencial, contando ao pé do ouvido com os protagonistas políticos de sempre. Entre os que querem gastar, sem qualquer preocupação com o déficit fiscal. E os que sempre assumem seus interesses eleitoreiros mais paroquiais. Precisamente, aquele tipo de político que sobrevive como um ser simbiótico: metade dele atua para comprometer orçamentos e a outra serve para exercer sua autoralidade em forma de emendas estapafúrdias.
Uma pena se, mais uma vez, o senso técnico perder o embate. Refiro-me a tudo aquilo que se traduz num sentimento econômico sensato, para o qual seja possível conduzir uma estratégia capaz de entender que há convergência no controle dos deficits. Ou seja, que é possível operar o equilíbrio das contas, sem perder de vista o resgate da dívida social. É uma simples questão de optar pelas doses certas e em prazos factíveis.
Em suma, penso que é trocar o instrumento de medição Tirar de cena um barômetro bem mais danoso e por em destaque um dosímetro bem mais esperançoso.