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Sobrevida política e econômica: derradeira esperança pela inflexão e pelo tempo

Na coluna anterior, tratei aqui sobre uma teatralização da dialética, que tem mexido no ânimo da política e da economia no nosso país. Hoje, utilizo-me de um vetor resultante desse surrealismo agora tão comum: a necessidade de sobrevivência.

Tentarei explicar essa aposta atual vista nas duas áreas, levando-se em conta o que poderá acontecer no curto prazo (neste semestre). Afinal, as contradições que agora se revelam, por conta de discursos e teorias tão diferentes do que era defendido no início do governo, podem até garantir alguma sobrevida, naquela velha intenção eleitoral. Mas, ficam no ar algumas incógnitas e incertezas sobre o momento da inflexão em favor do objeto desejado e se o tempo será suficiente. Os gráficos e as ampulhetas já estão sobre as mesas decisórias do "planalto e da esplanada".

O processo dialético na política está na surpreendente aposta no outrora rejeitado "Centrão". Na intenção de uma governabilidade que sequer foi consumada em dois anos e meio, a ameaça de um trauma político que pode advir de um impedimento, empurrou o governo para essa composição. Além de "salvar" o projeto para uma disputa de reeleição, é evidente que essa via política tornaria ainda possível alguma esperança pelo desencalhamento dos projetos de reforma no Congresso. O desafio passa a ser agora inverter as expectativas políticas (ponto de inflexão), em nome dessa "antecipação do embate eleitoral", sem perder de vista a força implacável do tempo (a ampulheta já está virada). 

E o danado dessa estratégia de sobrevida política é que eventuais convocados do "Centrão" compõem o time com prazo de validade de 9 meses. Evidente que renunciarão seus postos, pelos desejos individuais e/ou partidários de enfrentarem uma campanha, proporcional ou majoritária. A eficácia desejada através desse viés político não será nada fácil.

Se a súmula política, independente dos discursos conflituosos do passado, impõe tamanho desafio no "novo" discurso e na prática de arriscar o "tudo ou nada", pelo lado da economia a tarefa não é menos hercúlea. A aposta  não é só arriscada na modelagem técnica e engenharia política, em favor de alguma estratégia que faça a inflexão e "salve a pátria". Sem plano adequado e sem sinalizações firmes para os distintos agentes econômicos, sustentar tendências pontuais e/ou inverter números não são conquistas tão simples, que se traduzam em benefícios, dado o prazo de pouco mais de um ano de governo.

A inflexão de alguns indicadores não parece ser a tendência captada pelos que atuam ou analisam os mercados, dado o semestre em curso. Apesar dos sinais emitidos em torno de uma recuperação do PIB, não são animadoras as expectativas de inversão na inflação (em alta), nos juros (também em alta) e no desemprego (a última variável a se ajustar, quando o ambiente de crescimento se revela seguro e estável). O câmbio, por sua vez, tem uma projeção de se manter no patamar dos R$ 5 por US$ 1. Pela conjuntura interna e pelo que se vê lá fora.

Boa parte desses desafios ainda depende da disposição política, em mão dupla (governo e parlamento), no avançar das reformas. Uma boa engenharia política permitiria diminuir tanta incerteza que paira no ar. Só que temas polêmicos, interesses corporativos em jogo, prazos exíguos e clima eleitoral acirrado são elementos que apontam para possíveis dissensões.  

Enfim, passados os efeitos de uma dialética inusitada, devido aos olhos voltados para sucessão de 2022, as contradições e os desafios que dão sentido hoje à  política e economia são implacáveis e imperiosos.

Será mesmo preciso ficar de olho nos números. E na ampulheta virada.

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