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Nem 8, nem 80

Super-humanos em tempos desumanos

A velha essência da desigualdade presente às novas relações socioeconômicas

Divulgação

Inspirado por matéria em "The Economist", o competente articulista Maurício Rands, no início desta semana, brindou-nos com um texto preocupante, no sentido de trazer à baila uma discussão sobre as reais intenções super-humanas. 

A vida parece mesmo imitar a arte, pois longe dos devaneios de velhos quadrinhos e/ou velhas telonas, algumas forças inusitadas de oferta e procura, relativas às inovações tecnológicas, agem firmes e fortes. Não têm bastado os avanços ousados e evidentes sobre a inteligência artificial. Agora, chegou a vez de se engendrarem esforços para o alcance de corpos e mentes saudáveis e longevos. No entanto, isso tem seus "custos", de um modo tal que pouco se enxerga sobre "benefícios" coletivos.

O que entendo está por trás de algumas consequências drásticas desse processo tem muito a ver com os riscos de se aumentar a desigualdade. A propósito, esta eterna preocupação que, historicamente, acompanha a própria humanidade, não esteve apenas explícito no texto de Rands. Os males de um compromisso exaustivo e irritante, pregado e exercido em nome de um individualismo escrachado, foi alvo de outros textos que, direta ou indiretamente, trataram do tema da desigualdade nos últimos dias. 

Num plano inicial, cito a leitura direta do tema, conforme abordado com belo realce por Gregório Maranhão, aqui nesta Folha. Noutra dimensão, aferi o mesmo mérito temático que pude extrair, indiretamente, de outro texto brilhante de Cristovam Buarque. Em ambas situações, julgo que o conjunto dessas iniciativas me deixou mais à vontade para opinar.

Por trás de todas percepções, resta minha certeza na forma de um extrato, que traduzo como exemplo daquilo que chamam de "sofisma de composição". Algo onde o engajamento micro termina por comprometer o macro. Aqui posto num contexto  que se expressa de forma mplacável, controverso e polêmico. É o individualismo levado à exaustão, num ofício de empáfia que desconsidera ou irreleva o senso coletivo.

Pois é, quando imaginava com os meus botões tratar de olhar para um novo desenho de capital humano, impactado pelas mudanças derivadas das inovações do mundo digital, sou "compelido" a observar outros avanços tecnológicos. E que fazem sentido para um reforço absurdo, em que a  supremacia é qualidade humana. De fazer a diferença para os alinhados dessa ideologia. 

É assustador que protagonistas poderosos da nova ordem econômica, revelem-se também como "super-homens", numa tentativa real de demonstração dessa supremacia, seja física e/ou mental. Tudo a ver com os fundamentos de ideias segregadoras, que se manifestam e se espalham, em profusão. Sem preocupações com o abismo de desigualdades renitentes, dispersas pelo mundo. 

E então? Assistiremos na vida real às práticas de poder dos super-homens, ainda que em tempos de desumanização?

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