Surge o Ilusionismo Econômico e seu Poder de Sedução
Sai de Cena o Posto da Solução Fácil e Entra o Circo da Eleição Mágica
Talvez a nossa tão genuína pluralidade possa explicar a dificuldade que a sociedade revela, justo quando a necessidade de ser singular parece urgente. Com esse modo de atuar diante de questões sensíveis das politicas públicas emergentes, o governo e parte da sociedade continuam a agir sem qualquer compromisso com o futuro. Insiste-se em surpreender no inesperado e quando o mínimo acontece através de outro modo de se encarar as politicas, faz-se acontecer de maneira inconclusa.
Tomo aqui duas linhas de raciocínio, em termos de politicas recentes sintonizadas com a economia. Uma primeira percepção do que aqui chamo de "ilusionismo econômico" é o de mostrar resultados onde não se enxerga. Mais do que "vender teremos em solo lunar", é o esforço de sedução movido para encantar quem acha que o paraíso é possivel nas circunstâncias econômicas atuais. Numa outra linha complementar à tese ilusionista, encontra-se o registro descarado de transformar o que é transparente em algo secreto. Refiro-me a uma das derradeiras ações, onde recursos oriundos dos setores cultural e científico-tecnológico, com suas liberações referendadas pelo Congresso, são suspensos, em troca de emendas parlamentares. O ápice de um "crime fiscal" anunciado: de negacionista inculto para manobrista oculto.
No primeiro caso, ao ouvir tantos arroubos de um certo "fake ufanismo", pergunto-me: que país enxergam? Derramar e destilar estatísticas econômicas pontuais, que têm suas explicações, mas que não revelam tendências sustentáveis, parece mais um "estelionato de ideias". Um exemplo? O discreto crescimento econômico que está por ser materializado neste ano, tem os "pés de barro". Além de um esperado avanço na capacidade ociosa ditada pela pandemia (efeito do entusiasmo natural de quem salva da UTI da crise), a verdade é que a fragilidade desse número se mostra indecente, quando se mira para a essência da inflação e da taxa de juros. Esses preços com sinais de instabilidade apontam que os pequenos negócios (quem mais emprega) e as famílias de média e baixa renda (quem mais exerce o poder de consumo) estão em estados críticos. E qual é o resultado disso? Endividamento (das pequenas empresas e das famílias), mais desigualdade de renda, ampliação do conceito geral de desemprego, aumento da pobreza e retomada da insegurança alimentar. Dizer o contrário é consagrar a magia do ilusionismo, como bem afirmou o Presidente, que não enxerga a fome espalhada pelas esquinas do Brasil.
Nada exemplar a lição política de sobrepor interesses eleitorais nada transparentes, a detrimento de um regozijo de assistir às últimas "pás de cal" sobre a destruição odiosa formada em torno da cultura, ciência e tecnologia. A atitude em si não surpreende, tamanho o ódio difundido e instalado sobre esses setores. Manobrar sobre recursos originalmente destinados aos fundos setoriais e descontigenciados pelo poder democrático da maioria parlamentar, parece-me uma agressão criminosa, que fere e sangra a Constituição. Pior: mudar as regras para destinar R$ 5,6 bilhões como emendas de relator, tratadas de modo secreto e no final da campanha. E com todo empenho do Ministério da Economia (no duplo sentido) para que o efeito financeiro se faça em prazo recorde. Saiu de cena o posto da solução fácil, que ficou como mera retórica. Passou a valer o circo de uma eleição, para a qual o Ilusionismo tem sido usado como artífice das magias.
Apesar de mais esse ataque fiscal destruidor, prefiro seguir como Cora Coralina, que da vida bucólica e simples da sua Goiás disse: "prefiro ter mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas".