Um "Tripé de Preconceitos" Faz do Escapismo Prática de Efeitos Econômicos
O Sentido do Estímulo à Desigualdade por Critérios de Renda, Etarismo e Etnia
Quando as formas típicas do nominado preconceito estrutural se escondem por trás daquele "jeitinho dissimulado" e vira um "esporte nacional" assumido, é bom encarar a atitude, sem constrangimentos. Afinal, o ofício do escapismo impregnado na sociedade brasileira, além de minimizar e esconder dolorosos preconceitos, contribui para estimular à desigualdade. E isso tem efeitos sobre a economia, num olhar de médio a longo prazo.
Confesso que estou assustado, não apenas com a dissimulação imobilista que afeta grande parte da sociedade. Essa face da moeda, só reforça o sentido estrutural que caracteriza toda uma sutileza, enquanto "componente comportado" do preconceito. Recolhido para quem o pratica. Atuante para quem o sente. Enfim, não faltam pretextos para negá-lo. Mas, sobram dores para tolerá-los. E assim gira roda viva do escapismo.
Acontece que a moeda tem outra face. Bem além de tal comportamento, está também a real constatação de atos frequentes que, muitas vezes, ignoram a grandeza da desinformação e do desinteresse por se querer mudar. Daí, construir-se uma realidade social que valorize, efetivamente, a essência que exprime a força da diversidade brasileira.
Atenho-me aqui a três importantes variáveis de uma função aqui simulada. Renda, etarismo e etnia formam uma espécie de tripé, que bem caracteriza a manifestação de preconceitos arraigados e amordaçados. Tais variáveis costumam gerar situações típicas de acomodação diante de preconceitos, que na soberba do escapismo, da dissimulação, provocam danos à economia e à própria sociedade. Vejamos alguns breves exemplos.
Quantas vezes não nos sentimos excluídos, quando o padrão de renda impõe regras, mesmo que discretas, de distanciamento? Nesses casos, o fator renda costuma ser determinante na distinção de ambientes, postos ou outros aspectos que valham. Um outro contexto que tem tomado vulto atualmente é o distanciamento provocado pelo fator idade. Ou seja, a prática do etarismo não é apenas algum senso comum de um protagonismo cada vez mais juvenil. É também uma tentativa de se ignorar a experiência e daí se transmitir para a geração antiga um sentimento de que seu tempo passou. Mesmo com uma transição demográfica que sinalize para o envelhecimento, por mais capacitado e apto que seja o "novo" idoso. Por fim, a prática recorrente de se discriminar a etnia pelo fator regional. Na particularidade brasileira, o fazer-se resistir e existir enquanto originário do Nordeste, tem sido algo doloroso. Não são apenas as demonstrações explícitas de um ódio com brutal viés ideológico. É também a manifestação sutil de não saber dar o espaço e o mérito para valorosos nordestinos, nas mais variadas situações e atuações.
Não sabem os brasileiros praticantes desse escapismo o quão prejudicam a economia. As relações sociais que fazem as derivadas dessa função revelam que, sem uma inflexão real, a desigualdade será mesmo uma eterna componente do nosso fiasco no desenvolvimento.