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Uma Agenda Econômica "Nem Nem": Nem Liberal, Nem Estatista

No texto anterior, referi-me à fábula do lobo fantasiado de cordeiro, como mero argumento para ilustrar um tradicional contraste de pensamentos econômicos, diametralmente opostos. Assim como "água e azeite", os genuínos liberais e estatistas não costumam transigir com a adoção de qualquer meio que faça uso das ideias do outro, por maior que seja o nível de pragmatismo na política e economia. Isso é natural porque são pensamentos antagônicos, que assim se assumem com os seus respectivos caracteres .

 

Cabem ressalvas que servem para casos circunstanciais. Como exemplo atual, é evidente que seja tolerável, num quadro de pandemia e com todos problemas sociais dela decorrentes, que uma atitude pragmática permita a implantação de um programa de renda mínima para vulneráveis. Isso é possível, por mais resistente que possa ser o agente liberal. 

 

Aqui, no começo dessa história, quando se sentiu que a crise sanitária não era tão minúscula quanto o governo acreditava, bem que a equipe econômica tentou emplacar um benefício de valor ínfimo (R$ 200). Isso foi logo rebatido pelo Congresso, que negociou a partir de um montante bem maior (R$ 500, para daí se chegar a R$ 600). A equipe fez então sua primeira rendição, baseada numa opção mais identificada pelo receituário antagônico.

Diante de uma reação popular favorável e daí com possibilidades reais de dividendos eleitorais, a equipe deu seu segundo passo em favor da rendição ideológica. Assim foi ao aceitar a dilatação do prazo de concessão dos benefícios, até dezembro passado. Por fim, após um primeiro trimestre crítico com o agravanento da pandemia, a equipe acatou uma continuidade para o exercício de 2021, mesmo que lastreada por um valor menor. 

 

Assim, chega-se ao segundo semestre num quadro de resistência da pandemia, associada a uma vacinação lenta. Em clima de embate político antecipado, reforçou-se uma necessidade de enfrentamento das questões sociais emergentes, justificado pelo aumento da vulnerabilidade na base da pirâmide. Um contexto que sinaliza para a intervenção  governamental. Só que na essência dessa atribuição, o efeito demonstrativo tem muito mais razões eleitorais, do que mesmo uma desejada "inteligência social". Não há como se enxergar esse fato de modo diferente. É de percepção instantânea, tamanha tem sido a manobra política para fazê-lo acontecer.

 

O vetor resultante dessa postura dúbia da equipe econômica define aqui o que chamei de "agenda nem nem". O jeito liberal de ser está tão entregue à sua genética, que a adoção de instrumentos intervencionistas, por mais eventual que seja, não condiz com o DNA e a realidade. Com isso, fica evidente que prioridade da agenda passa a ser a manutenção do poder, apenas ditada pelas circunstâncias eleitorais.  

 

O que se extrai daí? Bem, a leitura da ciência política é que esse episódio é um exemplo clássico de populismo. Para a ciência econômica, sequer a oportunidade de um pragmatismo pode ser considerada. 

 

Assim, para que não perca o bonde da história, esse vácuo no pensamento econômico reforça minha tese de que se trata de uma "agenda nem nem". Nem liberal, devido à aposta nos instrumentos típicos do intervencionismo, mesmo que  circunstancial. Nem muito menos intervencionista, pela irremediável natureza de quem sempre foi embalado no berço do liberalismo.

 

Independente do que vier das eleições, não tenho dúvida de que, uma vez superado o processo político, o Instinto do lobo logo renunciará a pele de cordeiro. Afinal, toda boa ovelha sabe que a vida imita a fábula. Seja agora o lobo liberal. Como já foi um dia o lobo estatista.

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