Vai-se encarar o desafio sem lenço e sem documento?
A economia brasileira seguirá cambaleante no curto prazo e míope para o futuro?
Enfim, a vitória da polarização, que seguiu na sua nércia de um ano, fez do primeiro turno uma prévia muito próxima do segundo. O plebisbito se deu e se repete, talvez mais acirrado e dividido. Agora, rejeição a um ou outro ganha mais ênfase.
De fato, a primeira corrida desse pleito reforçou a conquista pragmática, em vez da programática. Foi a etapa da virulência repulsiva dos protagonistas, em vez da uma prevalência cognitiva. O que restou de uma sociedade esclarecida na sua intenção e indignada com a situação, foi-se sentir "caetaneada", pelos versos do "sem lenço e sem documento". Ou seja, sem enxergar à distância, em estado de miopia. Um embate eleitoral tão acirrado que evitou discutir planos. Nesse sentido, jogou a favor da um futuro singular, diante da evidência de uma nação plural. Um brutal contrassenso.
Assim, espera-se que o segundo turno se efetive na perspectiva de um outro rumo. Um esforço para o qual as candidaturas exprimam seus compromissos pela evidência de planos consistentes, construídos por visões de futuro.
Do que foi posto até aqui em evidência, foi mínima a capacidade de se extrair algo nessa direção. No entanto, arrisco-me no desafio de trazer à luz do embate proposto, algumas situações novas que permitam a desejada mudança de rumo.
Da parte de quem pretende a reeleição, nada aponta para algum modo de mudança nos rumos econômicos. No curto prazo, o que se enxerga é a manutenção da atual política econômica, mesmo que se tenha algum ânimo novo dos poucos que têm resistido na defesa contrariada da ortodoxia liberal. A plenitude do que possa ainda existir como vigor liberal foi triplamente afetada, condicionada aos impulsos populistas, defensáveis ou não.
Em primeiro plano, por conta da essência nacional-corporativista que domina o pensamento presidencial, algo que contraria o corpo de ideias da maior parte da equipe, que sonha com uma economia aberta e livre de qualquer meio de intervenção estatal. Em segundo plano, pelo inesperado do efeito exógeno que veio da pandemia, que derrubou qualquer aversão à emergência social, por maior que fosse o discurso antieconômico dos que estigmatizaram o "fique em casa". Por 5último, em função do aguçamento do embate eleitoral, a imposição que se fez populista, de se sustentar uma linha de ação social forte, mesmo que se tentassem minimizar os efeitos do desemprego, da miséria e da fome.
A síntese da política econômica para o governo se manter no poder se reduz ao seguinte: o mesmo precisará se por nessa linha, no curto prazo. No entanto, mesmo assim, parece-me inevitável uma contradição interna, porque na hipótese do sucesso eleitoral e diante do fantasma fiscal, as contas precisarão ser ajustadas. E a pergunta que não quer calar é: até que ponto suportar?
Por mais que a opção da vitória de Lula possa impor o mesmo tipo de indagação, o certo é que se tem a devida consciência de que a realidade da política social é uma imposição irreversível. O "até onde suportar" vai depender da capacidade política de negociar numa direção mais ao centro e na convergência técnica dessas forças, no sentido de um entendimento que gere estabilidade, também no curto prazo. A missão é difícil, mas possivel de ser buscada. Nessa hora de engajamento político em torno de um projeto que tenta assumir a banda do centro à extrema direita, o contraponto é reagir com uma pauta econômicas, que traga mais estabilidade, pelas iniciativas que se dirijam da esquerda para o centro. Pela ótica econômica, isso teria mesmo um efeito estabilizador, de melhoria na confiança.
Vejamos o que deverá sinalizar essa reta final de campanha .