Velhos conceitos e falsos milagres podem dominar certas análises econômicas
O "Paradoxo da Omissão" em economias dependentes da informação
É fato que o mundo atual já funciona sob o poder da informação, mesmo que nas mais distintas dinâmicas que se impõem aos setores econômicos. Desconsiderar esse axioma é algo que me sugere tolerar um paradoxo, tamanha a presença da informação no cotidiano da sociedade. Para o cronista social ou, mais precisamente, o analista econômico, tê-lo em conta já demonstra ser algo inevitável, pela velocidade, grandeza e precisão com as quais a informação é posta em quaisquer situações do cotidiano.
Chamo aqui de "paradoxo da omissão" quando, por razões até inimagináveis, um fator econômico com essa expressão da informação, não está colocado com a devida evidência. Justo por ser inacreditável que ocorra essa falta de interesse, quando a normalidade analítica afirma ser o contrário. Conto aqui duas experiências que trazem à tona velhos conceitos e falsos milagres. Situações que deformam não só a boa temporalidade da análise econômica. Afinal, a partir daí, pode-se ter inspirações de políticas econômicas inconsistentes para o padrão da atualidade.
No contexto desse panorama econômico, quando me posiciono contra a prevalência de velhos conceitos, retorno para um tema que extrapolo na tenacidade. Refiro-me à essa aversão que se reserva à produção cultural, enquanto atividade geradora de empregos e rendas. Sempre uso nas abordagens um lamentável perfil de 3 D, que percebo ser dirigido às culturas, nas formas de Desconhecimento, Desinformação e Desinteresse.
Isso tudo é algo que confirma a extensão de uma ignorância inexplicável, sobretudo, quando se trata de uma tecnocracia que se entende como sintonizada com a realidade dos fatos. Como meu sentimento releva o poder da informação, penso que o "D" da ausência dela, não seja um argumento a considerar. Aliás, um ponto que também retira a explicação do "D" do desconhecimento. Nessas circunstâncias, creio que a resistência por validar o conceito econômico, passa a ter no "D" do desinteresse sua única e plena motivação.
A propósito disso, as recentes intervenções do governo parecem sinalizar para tal sentido. O que não deixa de ser lamentável e até frustrante. Afinal, esperava-se por mais comprometimento, por maiores que sejam o esforços e o méritos, claramente, favoráveis à reindustrialização.
O que quero externar com isso? Uma reação simples e objetiva, cuja tese volta para os tecnocratas do governo, na forma de questões pontuais e temporais. Digo mais: absolutamente, impactadas pela surpresa de não se constatar a inserção da "indústria criativa", como um dos eixos do plano de desenvolvimento industrial recém lançado. Ou seja, por mais uma vez, tudo aquilo que deriva da cadeia produtiva da cultura foi ignorado. É como se o setor mobilizasse recursos por mero diletantismo, pois quem pode gerar conhecimento e fazer o entretenimento, assim fazem sem compromisso empreendedor e por motivação amadora. Uma incoerência.
Assim, por esse erro conceitual de não se encarar a Cultura como eixo do resgate industrial, isso não representa apenas uma mera falha estratégica. Na essência da proposta, está uma leitura equivocada de se encarar a própria modernidade da Economia com inócua superficialidade. Seja na falta de percepção das tendências. Ou, até mesmo, na análise equivocada dos indicadores que, historicamente, têm feito o (in)sucesso de muitas políticas. Esse "desinteresse" por trazer a Cultura para o eixo do desenvolvimento, exprime o mesmo sentido da precipitação que, muitas vezes, dá-se na análise e na interpretação dos indicadores. Não existem milagres que reabilitem entendimentos conceituais "empacotados" e falhos. Nem muito menos, avaliações precipitadas de indicadores que embutem o que os economistas julgam, de pronto, serem "sofismas de composição". Nestes casos, quando o todo não representa a soma de partes, porque algum mínimo de complexidade nos fatos econômicos, costuma exigir muita atenção com as análises.
Portanto, todo esse cuidado o analista/cronista precisa ter em conta, revendo os conceitos e interpretando os números.
Nesse contexto final, refiro-me a uma breve e pitoresca história sobre o PIB, enquanto indicador que concede juízo de valor para tantos colegas economistas. Exemplo? O peso econômico da geração de energia, na pequena Canindé de São Francisco, em Sergipe. Um município de pouco mais de 30 mil habitantes. Por mais que a presença da hidroelétrica de Xingó tenha proporcionado desenvolvimento ao município, seu extraordinário indicador de PIB per capita não se traduz em riqueza explícita para seus munícipes. Os velhos e comuns problemas de cidades como Canindé, espelhados pelo interior do Nordeste, são uma dura realidade. Eis aí a importância de saber aferir a real grandeza dos números. A leitura competente da realidade precisa ser fato concreto. Nem mesmo a inteligência artificial pode ser capaz de superar a real tradução do conhecimento.
Renovações nos conceitos e nas interpretações são exercícios vitais na Economia. O milagre econômico pode até ser conquistado. Antes, porém, alguns esforços analíticos precisarão por em xeque os números balizadores. Não há imediatismos.
Considerado este caso particular da minúscula economia de Canindé, nem mesmo São Francisco foi capaz de mudar a realidade. Afinal, milagre econômico não espelha apenas números. É algo mais que se agrega à devoção popular no padroeiro.