Yes, Nós Temos Veículos Automotores
A Desinformação Sobre o Parque Automotivo de Pernambuco
Ao retomar a coluna hoje, trago à cena uma questão que muito me instigou nos últimos dias. Irei me referir à importância do parque automotivo para a economia de Pernambuco e do Nordeste, muito embora haja muito desconhecimento sobre esse tema, sobretudo, fora da abrangência regional.
Na semana em que a ANFAVEA divulgou uma alta de 8% na produção realizada neste primeiro trimestre do ano, ficou mais que pertinente essa abordagem. Claro que esse sintoma ainda está longe de um quadro que mereça comemorações. Problemas de paralisação em algumas linhas de produção, preços elevados por conta da baixa oferta de insumos e da asfixia fiscal, as dificuldades de crédito ao consumidor, devido aos altos juros em prática, são tudo isso elementos de preocupação. Sem falar de uma necessária revisão, no médio prazo, do que possa ser o ofício de mercado das montadoras aqui instaladas, diante de novas percepções sobre a sustentabilidade dos seus negócios.
Longe desse trivial discursivo sobre o papel do setor automobilístico na economia, queria aqui focar nessa questão pontual, que diz respeito ao dinamismo do setor hoje, em PE e no NE. Um assunto de impacto e que mereceria um nível maior de conhecimento a respeito. Para isso, irei usar como referência tudo que pude constatar em recente viagem para São José dos Campos e Porto Alegre. Com base nesse viés econômico.
Bem, no comentário, irei poupar eventuais protagonistas. Assim, concentro-me apenas na tese de que faltam mais informações, na alçada nacional, sobre o que representa o parque automotivo de PE. E digo isso porque, nas duas cidades acima citadas, meus contatos desconheciam que os produtos da marca JEEP eram fabricados aqui em Goiana. Alguns até proprietários de veículos, fizeram parte desse nível de desconhecimento. Teve quem imaginasse que os veículos eram importados. Com aquele gostinho sutil de uma falha concepção estrutural, mesmo que o propósito não fosse o de discriminar.
Por um lado, o interessante dessa tese é que se dá a entender que muitos formadores de opinião, consumidores ou não, não tiveram acesso aos relatórios técnicos amplamente divulgados. O estudo mais presente nessas discussões, em especial, nos fóruns econômicos, foi o relatório do impacto do polo automotivo comandado pelo grupo STELLANTIS (que reúne outras marcas, além da JEEP). Um rigoroso trabalho de pesquisa feito pelo time da CEPLAN (2022), que revelou, em números, a ordem da grandeza econômica do parque industrial instalado. Alguns breves destaques: a) eixo auxiliar das recentes transformações vistas na economia de PE; b) contribuição para a expressão de alguns agregados econômicos que se transmitem na economia do Estado e da região de Goiana; e, c) 65% das empresas instaladas estão no entorno do município (1/4 do emprego setorial com 21% de nativos). Só essas informações servem de efeito demonstração.
A consultoria fez bem sua parte, só que esse esforço de difusão técnica não era tudo. A ele, seria necessário agregar outro pacote de agentes difusores. E vou além disso: faltou ao conjunto da obra traduzir toda essa dimensão produtiva em "identidade pernambucana". Não se trata de um efusivo orgulho telúrico ou dw uma discreta manifestação de soberba. Longe disso. Faltou aqui se fazer o que os gaúchos fizeram tão bem: por a então GM vestida de bombacha e com a cuia de mate nas mãos. Que o digam os valores culturais e esportivos do RS.
Yes, nós temos automotivos fabricados aqui, para o Brasil e o mundo. Só lhes faltam fazê-los pernambucanos de verdade, oxente.