Aprendendo a ser pai
O processo de paternar vem percorrendo um caminho de expansão
Agosto é o mês dos pais. A paternidade possui uma infinidade de olhares, mas certamente uma das questões que nos limita a expandir a compreensão do processo de paternar é de que falamos muito pouco sobre ele. Trocamos pouco.
Um silêncio histórico, fruto de construções sociais que nos afastaram da função do cuidado e da capacidade de sensibilidade, com consequências notadamente negativas para toda a sociedade.
Mas penso - ou talvez queira acreditar - que esse contexto esteja em transformação, mesmo que incipiente. Novas gerações de pais estão em busca da quebra de ciclos, procurando novas referências ou as criando.
De simplesmente participar para se envolver e dividir as tarefas. De parar de achar que é um super pai e perceber que está fazendo apenas o que deve ser feito. Uma jornada longa, porém super gratificante, de muitas descobertas.
Não penso aqui em fazer comparações ou reparações. Se seguisse este caminho, com certeza haveria muitas lamentações, lacunas enormes, dívidas irreparáveis. Olho pelo prisma de pôr mais energia em fagulhas que se apresentam pelos recantos da vida, pelas esquinas, pelas curvas e bancos das praças.
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Adaptação
Vejo pais presentes em consultas de pré-natal. Pais parceiros no parto, se esforçando para apoiar a companheira em momentos nos quais aprendemos como somos o sexo frágil e como as mulheres são fortes.
Pais que se desdobram para, em uma licença paternidade que dura menos do que o carnaval, estarem firmes para se adaptarem a uma nova rotina no lar, na vida a três, ou a quatro, ou mais. Pais que seguram firmes durante o puerpério, erram, e covivenciam a montanha-russa hormonal do casal.
Estes pais são os mesmos que fazem valer o tempo disponível, possível. Brincam com seus filhos antes de ir para o trabalho. E na volta, apesar de cansados, preparam refeições, comem juntos. Dão banho, trocam a fralda, fazem a higiene do bebê, de manhã e a noite.
Ao deitarem, também não deixam de contar uma historinha ou ler um gibi. São os mesmos que acreditam fazer muito e admiram a capacidade da companheira de, na maioria das vezes, otimizar melhor o tempo do que eles.
No fim de semana, nos dias de folga, vão para as praças, parques, praias, ou mesmo shoppings, e se divertem muito em família. Cruzo com uns por aí e observo o quanto que é bonito de ver os homens mergulhados na tarefa do cuidar. Inspiro-me a fazer mais e melhor. Afinal de contas, nem sempre faço tudo isso que descrevi. Brinco que se pedisse uma nota de zero a dez a minha parceira sobre minha prática de paternidade, não sei se atingiria uma média mínima para passar de ano. Seguramente não é um dez, longe disso. Entretanto, o ponto é justamente esse: eu não nasci pai (parafraseando a pernambucana Lua Barros).
Evolução
Seguimos nossa jornada desaprendendo muita coisa que nos foi ensinada de outra forma. Não lembro de meu pai fazendo comigo quase nenhuma das atividades que descrevi acima. O quão é importante para mim ver meus amigos, ou mesmo outros homens que não conheço, trazendo exemplos de como podemos fazer mais e melhor.
Evoluir a paternidade tem um potencial de impacto múltiplo. Faz um bem enorme para a criança, contribuindo decisivamente para seu desenvolvimento. Combate a desigualdade do cuidado, diminuindo a sobrecarga gerada sobre as mães, mulheres que, na maior parte dos casos, absorvem em suas duplas ou triplas jornadas a responsabilidade das tarefas em casa e com os filhos. Além de, segundo a ciência, beneficiar a saúde do próprio pai.
Curto datas especiais e claro que busco também ser empático com as limitações que elas impõem. No fim do dia, são oportunidades bem interessantes para algumas reflexões. Busquei deixar aqui algumas delas. Precisamos falar mais.