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Artigo: Dados para ajudar gestores a personalizar o ensino na alfabetização

Por Andréia Myllena

Andréia Myllena, cientista social pela USP e pós-graduanda em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela FGV.Andréia Myllena, cientista social pela USP e pós-graduanda em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela FGV. - Arquivo Pessoal

A alfabetização na idade certa como prioridade nacional

Garantir a alfabetização na idade certa é um dos maiores desafios da educação brasileira. A capacidade de ler e escrever nos primeiros anos do ensino fundamental é determinante para todo o percurso escolar e para a inserção social de crianças em situação de vulnerabilidade.

Apesar dos avanços em políticas públicas nos últimos anos, os dados seguem preocupantes. Segundo o relatório Alfabetiza Brasil, lançado pelo Ministério da Educação em 2023, quase metade dos alunos do 2º ano do ensino fundamental ainda não atingem níveis adequados de leitura e escrita. O documento reforça a necessidade de atuação coordenada entre gestores, escolas e redes de ensino para reverter esse cenário.

Mas como enfrentar esse desafio em contextos tão diversos e com turmas numerosas? Uma das respostas passa pelo uso inteligente de dados para apoiar decisões pedagógicas.

Personalização do ensino: por que e como fazer

Cada estudante aprende de forma diferente — e esse princípio se torna ainda mais relevante no processo de alfabetização. Para respeitar os ritmos e estilos de aprendizagem, é necessário personalizar o ensino, ajustando abordagens, conteúdos e tempos.

Essa personalização, no entanto, exige um conhecimento detalhado sobre o desempenho e as dificuldades de cada aluno. É aí que a análise de dados educacionais e as ferramentas de Business Intelligence (BI) se tornam grandes aliadas de professores e gestores.

O uso estratégico de dados pode transformar a gestão pedagógica, permitindo intervenções mais precisas, acompanhamentos contínuos e o planejamento de estratégias diferenciadas. Neste artigo, vamos explorar como a análise preditiva e o BI podem transformar a alfabetização, tornando-a mais eficiente e inclusiva.

Como a análise de dados pode apoiar a alfabetização

A aplicação de BI e análise preditiva na educação básica ainda é recente no Brasil, mas oferece diversas possibilidades concretas para redes e escolas:

Identificação de dificuldades de aprendizagem: Plataformas de BI permitem construir painéis interativos que mostram, por turma ou escola, os principais obstáculos enfrentados pelos alunos. Se os dados indicam que um grupo de estudantes tem dificuldade na relação entre fonemas e letras, a equipe pedagógica pode redirecionar os esforços para esse ponto específico.

Monitoramento do progresso: Com ferramentas de visualização de dados, é possível acompanhar o desempenho dos alunos ao longo do tempo, identificando quem está avançando e quem precisa de reforço, sem depender exclusivamente de avaliações pontuais.

Previsão e intervenção antecipada: A análise preditiva, baseada em inteligência artificial, permite estimar quais alunos apresentam maior risco de desenvolver dificuldades de leitura e escrita. Isso possibilita uma atuação preventiva, com ações planejadas antes que os desafios se agravem.

Planejamento personalizado: Com base nos dados coletados, os professores podem elaborar planos de aula personalizados, ajustando conteúdos, metodologias e agrupamentos de estudantes de acordo com suas necessidades reais.

Desafios na implementação da análise de dados na educação

Apesar dos benefícios, a implementação do BI e da análise preditiva na educação ainda enfrenta alguns desafios:

Capacitação da comunidade escolar: Grande parte dos educadores ainda não receberam formação específica para utilizar ferramentas de BI e interpretar dados educacionais de maneira eficaz. Investir em letramento digital e análise pedagógica de dados é essencial para a mudança de cultura.

Infraestrutura tecnológica: Nem todas as escolas possuem equipamentos e internet de qualidade para utilizar plataformas de BI de forma eficaz.

Governança e ética no uso dos dados: É fundamental estabelecer protocolos claros de privacidade e proteção de dados, assegurando que as informações dos alunos sejam usadas de forma ética, com finalidades pedagógicas bem definidas.

O futuro da alfabetização com dados

O avanço das tecnologias educacionais traz novas possibilidades para a gestão do ensino. No caso da alfabetização, o uso responsável e estratégico de dados pode ser um diferencial para garantir que nenhuma criança fique para trás.

Mais do que um recurso adicional, a análise de dados se consolida como um instrumento central para promover equidade, melhorar a aprendizagem e apoiar o trabalho docente. Ao lado de políticas públicas eficazes e formação continuada, ela pode transformar o modo como alfabetizamos no Brasil.

Sobre a autora: Andréia Myllena, cientista social pela USP e pós-graduanda em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela FGV. Possui mais de 12 anos de trajetória profissional na interseção entre direitos humanos, inovação social e dados, com experiências que vão desde o Congresso Nacional até consultorias políticas e organizações do terceiro setor.

 

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