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Criançar: verbo intransitivo

Já que outubro é o mês das crianças, cabe recorrer ao lúdico para criar palavras

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Outubro é o mês delas. Nele temos um dia para comemorar, para brincar, para se esbaldar, para ser mais criança. Em um mundo tão “adultocentrista”, o quão pode ser mais rico e positivo do que “criançar”?
Criança não faz guerra. Só de travesseiros. Também pode ser uma guerra na hora de acordar cedo e se arrumar para ir, e não atrasar, para a escola.
Criança não agride. Infelizmente, é agredida, na maior parte dos casos em casa, por quem deveria proteger. Criança é vítima de quem deveria cuidar. Cuidado que deve ser de todos: família, do estado e da sociedade, como diz nossa Constituição Cidadã.
Criança tem o direito de amar e ser amada. Gosta de proteção e do apego com a mãe, com o pai, com os avós, com os irmãos, padrinhos, tios, com os melhores amigos. Gosta do abraço de reencontro.
“Criança não trabalha. Criança dá trabalho.” Quem disse que educar é fácil? Criança brinca de ser professor(a), de médico(a), de policial, de ser jogador(a) de futebol… Quem inventa que a profissão é de menino ou de menina é a gente.
Criança gosta de aprender. Tem sede pelo saber, pela descoberta. Sorri diante da novidade. E quando gosta repete, repete e repete. Seja o livro, o gibi, a historinha contada ou a brincadeira. E como é bom repetir. 
Só não é bom repetir o jogo no celular. Quantas vezes teremos que repetir para os adultos que as telas fazem mal para o desenvolvimento infantil? Então para que apressar esse aprendizado? Esse negócio de “idade certa” é coisa de quem quer vencer uma corrida contra sei lá o que. Coisa de adulto, claro.

Poder do lúdico

O lúdico e a mão na massa fazem parte da essência pedagógica do processo de desenvolvimento nos primeiros anos de vida. É assim na educação infantil e era assim que deveria ser nas outras etapas. 
O adulto criou outros nomes, gameficar e maker, para levar estas mesmas condições para o ensino fundamental, médio, superior e até para a formação no trabalho. Que bom seria se reconhecêssemos isso: a educação infantil é a educação do século 21. 
Tudo que continua guardado lá nas nossas últimas trincheiras pedagógicas conversa com o que sonhamos e debatemos para o futuro. Já se passaram quase um quarto do século e ainda não observamos isso. Parece brincadeira!

Infinito e além

Aliás, criança precisa de espaço. Pode ser o sideral. Por que não o infinito e além? Mas pode ser também uma praça com parquinho, um espaço para o brincar livre. O importante é desemparedar. Mas pode ser também um espaço na creche. 
Criança tem esperança, acredita em um mundo melhor. Um mundo com mais amor, com mais compreensão. 
Para ela não importa a orientação, a cor da pele ou o partido. Não existe diferenciação por tamanho da conta bancária. Só se for de moedas imaginárias. Esquerda e direita são apenas direções – às vezes confusas – para virar o guidão.
Quando que a gente perde a inteligência “criancial” e passa a valorizar mais a inteligência artificial, não sei. Só sei que está mais do que na hora de resgatarmos nossa originalidade instintivo.
Pois creio fortemente nas ideias do holandês Johann Huizinga, de que somos Homo Ludens e que o futuro é do brincar. Ou seja, que o caminho para resolver as maiores mazelas atuais da humanidade é buscar, incessantemente, CRIANÇAR.

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