Desigualdade: o desafio do século
Estudo dos vencedores do Nobel conclui que o progresso não é por si só suficiente para o bem comum
Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Ronbinson ganharam o Prêmio Nobel de Economia de 2024 por um trabalho que analisou as diferenças dos progressos das nações e consequente impacto nas desigualdades sociais e econômicas de suas populações. Sob alguns aspectos, uma releitura do trabalho do professor Douglas North, outro condecorado pelo prêmio, reconhecido pelo estudo do papel fundamental das instituições no desenvolvimento de um país.
A conclusão dos estudiosos é de que o progresso não é por si só suficiente para gerar prosperidade coletiva, o bem comum. A depender dos contratos sociais, normas e ideias dominantes de uma sociedade, a riqueza pode tender a se concentrar nas mãos de uma elite dominante, detentora do poder.
Durante séculos, isso ocorreu na história da humanidade. E se repete, como um padrão. Às vezes mais acentuado, às vezes atenuado por conquistas e avanços tecnológicos de impacto generalizado.
Narrativas
Hoje, no século 21, vivemos novos capítulos deste enredo. Disputas de narrativas trazem diferentes olhares sobre o ritmo acelerado do crescimento da produtividade econômica mundial diante da automação e o advento da inteligência artificial, que indubitavelmente quebra qualquer correlação com o aumento da empregabilidade.
Cresce assim também, a olhos nus, a maior mazela do mundo contemporâneo: a desigualdade e a consequente concentração das super-riquezas. Os sintomas são tão visíveis, que os dois polos políticos ideológicos, direita e esquerda, começam a convergir em ideias sobre renda básica universal, diminuição de jornadas de trabalho, aumento de impostos sobre o luxo ou herança.
Resolver a questão não é simples. A desigualdade é um problema complexo. Isso significa que não há uma única solução bala de prata, são necessárias múltiplas intervenções por tempo continuado para que se produza os efeitos desejados. E, voltando ao tema central das teses dos professores, isto só ocorre quando não há instituições que são “extrativistas”, que geram ganhos de curto prazo, mas por vezes insustentáveis.
Variáveis
E entre tantas variáveis que transpassam questões tributárias, trabalhistas ou de justiça distributiva, há outra via tão importante quanto que pode ser atendida por políticas sociais assertivas: os cuidados adequados nos primeiros anos de vida. Tese também evidenciada por Nobel, pelo professor James Heckman.
Tal investimento impacta diretamente na renda destes cidadãos e traz retornos para toda sociedade. Essa, infelizmente, não é uma realidade compartilhada por todas as crianças no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo. Nossas instituições não garantem, até os dias atuais, políticas equitativas para os que mais precisam justo em um momento tão crucial do desenvolvimento humano, quando a diferença dos estímulos podem gerar uma desigualdade cognitiva considerável.
O que fica claro é que, independentemente de questões econômicas, temos uma das estratégias mais fundamentais de transformação social com grande poder de impacto na equação ainda relegada, muitas vezes incompreendida.
Seguramente, as instituições mais inclusivas são as que olham para a Primeira Infância. As sociedades que cuidam das novas gerações agirão contra tendências de progressos concentrados e a favor de nações mais justas.