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Educação Antirracista desde a Infância: Como Formar uma Geração Mais Consciente?

A violência racista vivenciada por jovens e crianças negras não é um fato isoladoA violência racista vivenciada por jovens e crianças negras não é um fato isolado - Freepik

O caso de racismo sofrido pelo jogador Luighi, do Palmeiras, que desabou em lágrimas após o ocorrido, escancara a urgência de uma educação antirracista desde a infância. Luighi, que completou recentemente 18 anos, já carrega o peso de um racismo estrutural que, mesmo em sua juventude, não o poupa. A violência racista vivenciada por jovens e crianças negras não é um fato isolado, mas um reflexo da estrutura excludente da sociedade. A luta contra o racismo não pode ser apenas reativa: é preciso ocupar espaços de poder, transformar políticas públicas e construir um sistema educacional comprometido com a equidade. O episódio de Luighi é apenas mais um exemplo do quanto ainda precisamos avançar na desconstrução de um sistema que, em pleno século XXI, perpetua o racismo em diversas esferas da vida cotidiana.

Nesse contexto, iniciativas como o projeto Piraporiando, criado pela escritora e educadora Janine Rodrigues, são essenciais para mudar esse cenário. O projeto utiliza a literatura infantil e a formação de professores para transformar a educação e preparar crianças para um futuro onde o racismo seja inaceitável. Janine, além de fundadora do Piraporiando, também presta consultoria para empresas, auxiliando na implementação de práticas antirracistas, promovendo a diversidade e formando líderes e educadores capazes de provocar mudanças significativas dentro das organizações e instituições educacionais.

“Não podemos nos contentar com ações paliativas. A mudança precisa ser sistêmica. Isso significa inserir referências negras na educação, contar a história real do Brasil e garantir que o racismo seja tratado com o rigor necessário. A impunidade é um dos maiores combustíveis do racismo”, afirma Janine Rodrigues.

A formação de professores e treinadores é uma etapa essencial para essa transformação. Desde a infância, crianças negras são obrigadas a lidar com o racismo sem o amparo necessário, enquanto crianças não negras são poupadas do debate. “Precisamos ser honestos com as crianças. Elas enxergam as desigualdades e precisam entender que o racismo é uma violência estrutural que deve ser combatida. A proteção da infância ainda é seletiva, baseada em raça, gênero e classe, e essa realidade precisa ser transformada”, destaca Janine.

“A educação antirracista não pode ser apenas uma ferramenta de resistência para crianças negras; ela precisa ser um compromisso coletivo de combate ao racismo. O choro do Luighi não é só um desabafo individual, é um grito coletivo de uma população que tem sua dor constantemente ignorada. O racismo fere, destrói e mata. E, enquanto não for tratado com a seriedade que exige, continuaremos repetindo essas tragédias”, enfatiza Janine.

Além da escola, as famílias e toda a sociedade também precisam assumir sua responsabilidade na luta antirracista. O racismo não é apenas um problema dos negros: é um problema estrutural que beneficia alguns enquanto destrói a vida de outros. As diretrizes educacionais brasileiras, como a Lei 10.639, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, ainda enfrentam desafios na sua implementação. Segundo pesquisa do Geledés e Alana (2023), 71% dos municípios brasileiros não cumprem essa legislação, perpetuando um sistema educacional que apaga a história negra e reforça desigualdades.

Para reverter esse cenário, é imprescindível investir na formação contínua de educadores, promover a representação de protagonistas negros e indígenas na literatura infantil e garantir políticas públicas eficazes para combater o racismo em todas as esferas da sociedade. O compromisso com uma educação antirracista e verdadeiramente inclusiva precisa ser assumido de forma inegociável por escolas, famílias, empresas e pelo poder público, para a Janine Rodrigues: “A mudança só acontecerá quando ocuparmos todos os espaços de decisão e exigirmos um país onde ser negro não seja sinônimo só de resistência, mas de plenitude."

Sobre a Piraporiando
Fundada em 2015 por Janine Rodrigues, a Piraporiando é uma editora, consultoria educacional e produtora cultural que promove a educação antirracista, para as relações étnico-raciais, diversidade e inclusão. Seu trabalho abrange formação para escolas, consultoria para empresas e poder público, além de livros infantis, materiais educacionais, teatro, animações e jogos.

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