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Fred Amâncio: “Vamos duplicar as vagas em creches no Recife até o fim de 2024. Este será um dos nossos legados”

Novo Secretário de Educação do Recife, Fred Amâncio - Arthur de Souza

Fred Amâncio é auditor fiscal do Tesouro Estadual com mais de 25 anos de experiência no serviço público. Já foi Secretário de Estadual de Saúde, de Desenvolvimento Econômico, de Planejamento e, nos últimos 6 anos, esteve como Secretário de Educação do Estado de Pernambuco.

Em 2021, foi um dos primeiros nomes anunciados para compor a equipe do novo Prefeito do Recife, João Campos. Agora, ele comanda a pasta de Educação da capital pernambucana. Nas redes sociais, Campos deixou claro sua confiança em Amâncio: “Tenho certeza de que Fred vai contribuir muito para a revolução que pretendemos fazer na Educação da nossa cidade, com a consolidação de avanços importantes e a implementação de projetos e iniciativa que vão, nos próximos quatro anos, elevar a qualidade do ensino público do Recife, entre eles o aumento das vagas em creches e o lançamento de um robusto programa para alfabetização das nossas crianças na idade certa”, afirmou o socialista em sua conta do Instagram.

Fred se tornou referência na área e tem o reconhecimento de sua competência em todo o país. Durante sua passagem a frente da pasta estadual, chegou a assumir o Consed, o Conselho Nacional de Secretários de Educação, entidade que tem como finalidade promover a integração das redes estaduais de educação e intensificar a participação dos estados nos processos decisórios das políticas nacionais.

É querido por onde passa e sempre tratado com muito carinho por colegas de trabalho, seja por seus pares do secretariado ou por sua fiel equipe.

Sendo assim, não foi surpresa a atenção dada ao Blog e as opiniões embasadas apresentadas durante a entrevista.

 

Confira abaixo alguns destaques:

Pergunta Papo de Primeira:

Fred, completamos 100 dias de mandato do Prefeito João Campos, recorte temporal considerado relevante do ponto de vista da gestão pública tanto para compreensão da realidade, quanto para imprimir uma marca de ritmo para opinião pública. Já deu para sentir a diferença entre estado e prefeitura? Ou as condições do contexto da pandemia impediram um contato maior com a rede?

Esse ano é um ano muito particular. Estou na gestão pública há mais de 25 anos, e nos últimos 6 anos na área de educação. Um dos pontos mais positivos que observei no trabalho do estado foi a realização de um planejamento estratégico de longo prazo. Cuidar do início do ano letivo sempre é uma grande prioridade de começo de ano, mas além disso é preciso estruturar projetos importantes pensando no futuro.

Logo nos primeiros dias, o Prefeito João Campos nos deu o desafio de planejarmos os primeiros 100 dias, o primeiro ano de gestão (2021) e o planejamento para os 4 anos do mandato. Já começamos a trabalhar nas 3 frentes. E com certeza, uma das grandes prioridades é a preparação da rede para este ano. 2020 foi um ano desafiador para o mundo todo, porque nenhum país estava preparado para interromper as aulas presenciais e assumir o modelo das aulas remotas. Todo mundo teve que se adaptar. A dificuldade foi maior ou menor a depender estrutura e contexto.

Recife teve avanços importantes de adaptação, mas sabemos que houve prejuízos no ensino. Então, precisamos montar um projeto que foque em 2021, mas que também recupere o que foi perdido em 2020. Sem dúvida, a educação infantil e o ciclo de alfabetização foram as etapas mais afetadas, pela dificuldade de desenvolver atividades remotas com crianças desta faixa etária.

Assim, começamos a estruturar um grande projeto de ensino híbrido para este ano. Estamos montando uma enorme estrutura para ampliar nossa oferta de aulas pela internet e pela tv e reforçar o trabalho da escola. Nosso planejamento é lançar essa plataforma no final deste mês de abril, ou no máximo no início de maio. Vai ser um legado da pandemia, mesmo quando voltarmos para o dia a dia tradicional presencial. Não estamos pensando apenas no curto prazo, mas também a médio e longo prazos.

Nós ainda não temos a definição exata sobre a data de retorno. Semana passada saiu uma portaria do Governo do Estado autorizando as redes municipais a retomar as atividades presenciais a partir de 26 de abril, mas isso deve ser desenhado cidade a cidade, de acordo com as particularidades de cada local e deve ser feito de forma gradativa, em etapas. Ao longo dos próximos dias, devemos publicar nosso plano em relação a isso, tomando todos os cuidados necessários. Isso consumiu muito do nosso tempo no início do ano.

Mas além disso, temos alguns projetos importantes na área de Primeira Infância para os próximos anos, com o olhar do PMPI (Plano Municipal para a Primeira Infância) e outros do próprio Plano de Governo do Prefeito, como o fortalecimento da infraestrutura da rede e projetos novos, como o Embarque Digital.

Pergunta Papo de Primeira:

Este ano seria o último da Prova Brasil e do indicador do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no formato atual. No Ministério de Educação, o assunto parece estar indefinido, inclusive pela instabilidade provocada pelas mudanças constantes no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão técnico responsável pelo desenho e coordenação do sistema nacional de avalição em larga escala. Além disso, teremos também um forte impacto na aprendizagem devido a instabilidade de dois anos letivos severamente afetados pela pandemia. Sendo assim, você acredita que ainda é possível guiar os objetivos de gestão pelo IDEB? Ou o momento pede outros caminhos?

Essa é uma temática bem interessante para mim. Eu coordenava esse debate quando representava o Consed no âmbito do Conselho Nacional de Educação (CNE). O Ideb é um excelente indicador, tem uma construção muito interessante. Não é apenas o resultado de uma prova, mas considera tanto a questão de proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, quanto a dimensão de fluxo.

O Ideb foi pensado para um ciclo de 10 anos e esse seria o último ano. Ele é o grande balizador da educação do país, suas metas compõem as metas do Plano Nacional de Educação (PNE).

Com a pandemia, tivemos o primeiro impacto. Teremos prejuízos. Difícil saber quanto vai impactar. Então, o MEC levantou a possibilidade de não haver a aplicação este ano, alegando necessidade de economia, de redução de gastos, mas de uma forma geral todos que trabalham na área de educação básica são contra esta proposta.

Na verdade, esse é o ano mais importante para a aplicação. Não para obter o resultado de uma rede, de uma escola ou de um estudante, mas para poder nos trazer informações importantes justamente sobre o impacto da pandemia e balizar o planejamento futuro. Nem todos os municípios terão condições de fazer uma avaliação diagnostica após a retomada das aulas, por exemplo. Há até quem defenda que a avaliação não seja aplicada de forma censitária, seja amostral. Mas deixar de aplicar seria um prejuízo enorme.

O Inep é um órgão de altíssimo nível, respeitado no mundo todo. Precisamos respeitar o trabalho realizado pela instituição.

Rogério Morais e o Secretário Fred Amâncio

Rogério Morais e Fred Amâncio - Arthur de Sousa

Pergunta Papo de Primeira:

Falando um pouco mais de pandemia e seus impactos, conta um pouco do que a Secretaria está fazendo hoje e quais as principais estratégias para manter o atendimento e atenuar perdas identificadas após o retorno.

Estamos nos readaptando novamente. Já tivemos a necessidade de um ajuste no início deste ano. Esses primeiros meses foram bastante prejudicados e só agora vamos iniciar essa retomada de forma gradativa. Mas para além disso, temos grandes linhas de ações, como a avaliação diagnostica em duas camadas, uma escolar e outra de rede.

Os dois maiores desafios serão recuperar o ano anterior etapa por etapa, escola por escola, mas também desenvolver o previsto para o ano de 2021 ainda sem estar 100% presencial. Então vamos usar os Mapas de Foco elaborados pelo Instituto Reúna, olhar em todas as habilidades da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) quais são aquelas mais estratégicas, que os estudantes não podem deixar de aprender, que impedem o avanço e geram lacunas que não poderão ser supridas no futuro. Isso demandará um esforço ao longo de 2021 e, provavelmente, ao longo de 2022 e talvez 2023.

Em 2020, as redes optaram por um processo de progressão dos estudantes. Em 2021, não iremos considerar como um ano normal, contudo vamos avaliar estudante a estudante considerando o contexto, porque não podemos ir progredindo se ele não estiver recuperando estes conteúdos que ficaram pra trás. É um ano que precisaremos ter um olhar diferenciado.  

Uma outra prioridade é a questão do abandono escolar, que já era um problema antes da pandemia. Vamos fazer uma busca ativa para resgatar estes estudantes.

Pergunta Papo de Primeira:

A Secretaria Executiva para a Primeira Infância, uma inovação do Recife, agora está ligada a pasta da Educação. Qual sua visão sobre as prioridades para o assunto e especificamente em relação a ampliação de vagas para creches?

Recife foi uma cidade pioneira e com olhar diferenciado para a Primeira infância. O ex-prefeito Geraldo Julio colocou o assunto como grande prioridade e implementou vários programas. A Secretaria de Primeira Infância deu todo suporte para construção do primeiro Plano Municipal para Primeira Infância da cidade.

Agora o desafio é como continuar avançando. É uma das grandes prioridades também do atual Prefeito, João Campos, com um destaque muito grande na área de educação. Tivemos avanços em várias áreas na gestão passada, assim como na área de educação, mas precisamos dar condições de um avanço mais consistente.

Então a proposta é duplicar as vagas em creches. A ideia é ultrapassar a oferta de 14 mil vagas (hoje são ofertadas cerca de 6.500 vagas), ou seja, isso significa pelo menos mais 40 novas unidades. Estamos estudando diversos modelos. Seja ampliando unidades próprias, seja através de um novo formato de convênio ou de parcerias público-privadas. Uma meta audaciosa que estamos levando muito a sério e dedicando muito tempo para seu planejamento.

Em paralelo, focar na qualidade da oferta para trazer um novo projeto para a Educação Infantil, um desenho diferenciado que conecte com outra prioridade do Prefeito que é a alfabetização na idade certa. Recife teve experiências muito legais nessa questão nos últimos anos e precisamos dar passos mais relevantes em relação a todo o ciclo de alfabetização. Essa qualificação do trabalho pedagógico das creches pode fazer muita diferença nesse processo. São as bases para a nova geração que certamente irão permitir novos patamares de resultados da rede municipal de ensino.

Não é um desafio trivial. Ressalto que se trata da etapa que demanda mais estrutura e que tem os custos mais altos.

Pergunta Papo de Primeira:

Depois de falar dos primeiros 100 dias, dos planos diante da pandemia e de alguns projetos e ações, como última questão, pergunto sobre o futuro. Qual a marca/legado que você acredita que poderá deixar no final de sua gestão?

Estarei sempre muito focado nas prioridades do nosso planejamento estratégico. Primeiro duplicar as vagas de creche. Depois, fortalecer esse trabalho pedagógico na Educação Infantil, que tem total relação com a Primeira infância e com um novo Programa de Alfabetização, que até o fim da gestão, espero estar estruturado e já trazendo resultados.

Os dois grandes cases de sucesso na educação do Brasil, Sobral/CE e Pernambuco, têm algo em comum: governantes que priorizaram a educação; um grande investimento na área; planejamento estratégico; e a continuidade no trabalho. Na educação não há milagre, é preciso sequência. O que dá liga é a conexão permitida pelo planejamento, com metas muito claras.  Espero que em 2025 haja aprimoramentos e os eixos sejam seguidos.

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