“Podemos ter um apagão de mão de obra qualificada na educação, caso nada seja feito”
Consultores de educação comentam alta evasão nos cursos de nos cursos de licenciatura em exatas
Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram que os cursos de licenciatura em matemática, física e química têm uma taxa de evasão de cerca de 70%. “Atualmente, a carreira de professor no Brasil está desfocada da realidade do mercado.
Baixos salários, falta de reconhecimento e falta de perspectiva de crescimento estão entre os fatores que justificam essa afirmação”, relata Fabrício Garcia, CEO da Qstione, plataforma de avaliação e análise de dados educacionais. “Isso é fruto do próprio desinteresse cultural da população brasileira em relação à educação”, acrescenta Garcia.
Soma-se a isso, a desatualização dos currículos de licenciatura no país. “A maioria está muito defasada em relação ao que é praticado em nações desenvolvidas”, ressalta Garcia. “E a dificuldade em matemática, física e química é um reflexo da educação básica brasileira que apresenta resultados preocupantes nessas áreas há tempos”.
A matemática é uma disciplina elementar para construir o raciocínio lógico. “Eu diria que é essencial para o exercício pleno da cidadania e das possibilidades do ser humano”, afirma Miguel Perez, sócio da UpMat Educacional, plataforma de conteúdo para melhorar a performance em matemática e raciocínio lógico.
“Percebemos, no entanto, que essa disciplina vem muito carregada de um rigor conceitual desnecessário. Na formação do aluno de Ensino Fundamental e Médio, por exemplo, aborda-se uma matemática bastante descontextualizada, com pouco compromisso com o cotidiano, quando, na verdade, poderia servir como base para que esses alunos conseguissem perceber a conexão que existe entre ela e todo o mundo”, explica Miguel.
E “é preciso lembrar que os cursos de licenciatura é que formam professores. Eles devem empoderar o ser humano para o exercício dessa nobre profissão. O Brasil vai se tornar o que ele preparar hoje. E não vejo isso sendo seriamente apreciado”, complementa Perez.
“Podemos ter, num futuro próximo, um apagão de mão de obra qualificada na educação, caso não haja uma restruturação da educação superior nessa área e uma mudança cultural da sociedade brasileira em relação à educação e à importância do professor nesse processo todo. Trata-se de um problema cultural e estrutural que precisa ser reavaliado e repensado sobre vários aspectos”, conclui Fabrício.