Lucros dos Bancos e Concentração Bancária: Assuntos Recorrentes, Insolúveis e Absurdos
Quer saber mais sobre os lucros dos bancos nos últimos anos no Brasil? Fique ligado nesse artigo
Parece artigo republicado. Penso que se copiarmos todo ano o artigo do ano anterior sobre lucro anual dos bancos e concentração bancária no Brasil, basta mudar os números, sempre para maior e estará pronto.
O absurdo permanece. Entra governo e sai governo e ninguém soluciona a concentração bancária. Continuamos nós, 215 milhões de habitantes, a termos apenas 05 grandes bancos a dominar o mercado brasileiro.
Centenas de bancos ao redor do mundo. O Brasil oferece uma das maiores remunerações do planeta e nenhum novo banco chega ao Brasil. Muito estranho.
Todos os setores da economia brasileira merecem a atenção do capital internacional e testemunhamos a entrada de capital estrangeiros todos os anos em vários setores, menos no segmento bancário.
Assim sendo, fica óbvio que a concentração bancária permanece no Brasil em grande parte em função da proteção do governo aos banqueiros que atuam no Brasil, em detrimento dos 215 milhões de cidadãos brasileiros.
Mas não foi sempre assim. Lembremos, com enorme saudade, que já tivemos 04 bancos pernambucanos: BANORTE, Mercantil de Pernambuco, Industrial de Pernambuco e Banco do Estado de Pernambuco – BANDEPE.
Esta presença local, era um grande diferencial para nossa economia. Ter agências desses bancos espalhadas por todo o Estado, financiando o desenvolvimento local, fazia toda a diferença. Além, claro, dos mais de 30 bancos nacionais com presença e alçada de decisão no Estado, naquela época.
Na pandemia, esta distorção entre oferta e procura no segmento bancário se mostrou mais perversa. Vimos tanto o setor produtivo como a população em geral sofrerem. Mas, o sistema financeiro passou ileso.
Não estamos defendendo que banco tenha prejuízo. Mas ano após ano, invariavelmente, os lucros são altos, independentemente de como esteja a economia brasileira.
O descolamento dos lucros dos bancos da realidade de seus clientes é preocupante, para dizer o mínimo.
Enquanto isso, hoje amargamos apenas 05 bancos nacionais a financiar mais de 90% do crédito nacional.
Bancos | 2020 | 2021 | Variação |
Bradesco | R$19,46 | R$26,22 | 34,74% |
Itaú | R$18,54 | R$26,88 | 44,98% |
Santander | R$13,51 | R$16,35 | 21,02% |
BB | R$13,90 | R$21,00 | 51,08% |
Caixa Econômica | R$13,20 | R$24,50* | 85,61% |
Total | R$78,61 | R$114,95 | 46,23% |
*Caixa Economica 2021 - Livre estimativa apenas para contextualização do cenário bancário nacional. (não divulgou ainda lucro 2021)
Estes números seriam motivo de comemoração se eles expressassem o vigor da economia nacional, porém, o que constatamos em 2020 foi uma redução do PIB em 4,1% e em 2021 uma alta de 4,5%, ou seja, a economia como um todo voltou em 2021 ao patamar pré-pandemia de 2019.
Lucro neste período no setor privado produtivo foi a exceção e não a regra.
Acredito que está concentração bancária também tenha sua parte de culpa no alto percentual de famílias endividadas. A falta de concorrência possibilita juros altos, atitudes, normas e procedimentos impositivos e retira do cliente opções e alternativas.
As taxas de endividamento das famílias que em 2020 chegou a 66,3% saltou em 2021 para 76,3%.
Já a situação de inadimplência permaneceu praticamente estagnada: em 2020 era de 25,5% e oscilou para 25,2% em 2021.
Bem, para não dizer que não falei de flores, dentro da igualdade dos lucros, mesmo nesta situação de concentração, encontramos alguns diferenciais meritórios nos bancos públicos.
Segundo o SEBRAE, os bancos públicos lideram o ranking da procura por crédito por parte das Micro e Pequenas Empresas – MPE.
Já no Agronegócio, os bancos públicos são os protagonistas, notadamente, no universo dos micros e pequenos produtores rurais.
No caso do PRONAMPE, recurso federal para apoio às MPE no enfrentamento das consequências da pandemia, tanto Caixa Econômica quanto Banco do Brasil foram protagonistas nos momentos mais difíceis.
As maiores capilaridades pertencem aos bancos públicos, levando o atendimento bancário e o crédito a quase todos os cantos do país.
Ao fim e ao cabo, fica a eterna pergunta: por que o governo federal não promove uma ação direcionada à atração de bancos estrangeiros para investirem no Brasil?
Forte abraço a todos e fiquem com Deus!