O que você sabe sobre a Inadimplência do Consumidor Brasileiro?
Como diferenciar a inadimplência clássica da impontualidade
Inadimplência é, geralmente, a consequência da falta de capacidade de pagamento estrutural de um devedor. Ou seja, “ceteris paribus”, tudo o mais constante , o devedor não poderá pagar o compromisso assumido.
Portanto, é necessária uma repactuação dos termos iniciais, visando o reequilíbrio econômico e financeiro da transação.
Podem ser causadoras da inadimplência, dentre outras, a perda ou redução definitiva da receita, aumento involuntário e significativo do(s) compromisso(s) assumido(s), perda de patrimônio, elevação do custo de financiamento da dívida, dentre outras causas.
Importante diferenciar a inadimplência clássica da impontualidade.
A impontualidade é consequência do descasamento do fluxo de caixa, ou seja, num determinado período o devedor apresenta equilíbrio entre receita e despesa, no entanto, as datas de entrada e saída de caixa não coincidem, gerando assim, frequentemente, o pagamento em atraso, porém não caracterizando uma inadimplência estrutural.
A não compreensão desta diferença pode levar à adoção de soluções inadequadas ao problema.
Visto isso, quando analisamos os dados de inadimplência no Brasil, temos que ter muito cuidado com as conclusões. A informação se refere a uma impontualidade frequente ou pontual, porém, com solução autônoma num determinado prazo ou realmente trata-se de uma falta de capacidade de pagamento estrutural, e aí, será necessária uma atuação sistêmica?
Tomemos como base uma informação recente da FECOMÉRCIO – SP:
“Endividamento bate novo recorde na capital paulista - Na capital paulista o número de endividados bateu novo recorde em outubro: 2,84 milhões, representando 71,3% do total dos lares. Essa é a 11ª elevação consecutiva.”
Ora, analisando os dados em detalhe encontramos o seguinte extrato da inadimplência na capital do estado de São Paulo:
Período: últimos 13 meses base outubro 2021 - Local: São Paulo – Capital
Fonte: Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor - PEIC - SP
As perdas das empresas vêm reduzindo (inadimplência do consumidor), os atrasos dos consumidores mantêm-se praticamente no patamar (impontualidade) e o nível do endividamento das famílias vêm aumentando (análise de risco potencial futuro).Numa leitura correta, podemos verificar que a inadimplência vem caindo, a impontualidade está praticamente estável no período analisado, porém, o endividamento das famílias vem aumentando.
Entendidas as diferenças entre inadimplência, impontualidade, e também, compreendendo a análise de risco potencial futuro, seus impactos e providências requeridas, analisemos as possíveis causas da iliquidez e suas soluções.
Iniciemos com o superendividamento voluntário. Esta causa é “culpa” exclusiva do consumidor. O consumo descontrolado leva a uma sabotagem do equilíbrio econômico e financeiro do indivíduo ou da empresa.
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A prevenção vem desde a conscientização do consumo responsável, limitações impostas pelos limites de crédito, orientação ao consumidor, estabelecimento de normas na relação de consumo que privilegiem a transparência das informações, dentre outras medidas. Neste particular, a concorrência e ganância dos ofertantes de crédito devem ser acompanhadas visando evitar excessos.
Outro fator indutor do endividamento das famílias que pode gerar uma impontualidade e migrar para uma inadimplência é o altíssimo custo dos juros ao consumidor no Brasil. Leia mais sobre o Sistema Financeiro Nacional: Crime e Castigo.
- No segmento de financiamento de veículos verificamos taxas de 13,58% a.a. a até 49,38% a.a.
Fator importantíssimo e decisivo, o desemprego é, sem dúvida, um dos fatores mais duros, injustos e cruéis que colaboram com a iliquidez nas famílias.
Também influencia a liquidez geral o nível da renda média do trabalhador.
Conforme divulgado pelo IBGE , em outubro próximo passado, que a taxa de desemprego caiu para 13,2% no trimestre encerrado em agosto.
Adicionalmente, mesmo sendo uma melhora, a renda média dos trabalhadores caiu 10,2% em relação ao mesmo período do ano passado e, hoje, a média nacional de renda se situa em R$ 2.489,00/per capita, abrangendo todas as categorias e incluindo empregos do setor público.
Ao fim e ao cabo, a situação de liquidez do consumidor brasileiro é um somatório da responsabilidade no consumo, custo do crédito, nível de desemprego e renda, e, finalizando, a carga tributária sobre a renda auferida.
- Escrito por Marcio Borba;
- Economista;
- Diretor da Borba Consultoria;
- Presidente da Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial - SPPE.