Sistema Financeiro Nacional: Crime e Castigo
Concentração bancária no Brasil é uma das maiores distorções da economia brasileira
A concentração bancária no Brasil é uma das maiores distorções da economia brasileira e representa um entrave ao livre desenvolvimento econômico. Não se concebe entregar 212 milhões de brasileiros e 20 milhões de empresas a apenas 05 empresas bancárias que são responsáveis por mais de 90% da concessão de crédito no Brasil.
Esse grupo de bancos, que se assemelha a um oligopólio, terminou 2020 com impressionantes R$ 7,9 trilhões de reais em ativos totais. Todo o povo brasileiro e suas empresas juntos, produziram em 2020 um PIB de R$ 7,4 trilhões de reais. Ou seja, os ativos totais de 5 bancos ultrapassam o PIB de um país.
Em patrimônio líquido acumulam R$ 592,1 bilhões de reais. Em lucro líquido obtiveram, em um ano ruim como 2020, R$ 79,3 bilhões de reais. No levantamento da consultoria Economática, com 232 empresas do setor produtivo negociadas na Bolsa de Valores (sem Vale e Petrobras), o lucro líquido apurado foi de R$ 79 bilhões. Está é a realidade que a concentração bancária provoca no Brasil: precisamos de 232 empresas listadas em Bolsa de Valores para atingir o mesmo lucro líquido de 05 bancos.
Detalhando os efeitos deste cenário de concentração, verificamos que só com a receita de prestação de serviços, incluindo as famigeradas tarifas bancárias, esses bancos apuraram R$ 136,5 bilhões de reais, o que representou o pagamento integral da folha, inclusive a Participação nos Lucros, cujo valor importou em 2020 R$ 96,8 bilhões de reais e ainda sobraram R$ 39,7 bilhões. Esses recursos extraídos indistintamente do pobre e do rico.
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O total das operações de crédito desses 05 bancos em 2020 importou em R$ 3,6 trilhões de reais, representando 48,5% do PIB brasileiro. O que pode parecer um esforço heroico das instituições financeiras para atender a população e as empresas em ano de pandemia, é esclarecido pela análise das medidas emergenciais do governo federal, através do Banco Central, que liberou aos bancos R$ 3,2 trilhões em crédito potencial.
Com este cenário, esperar redução de juros e custos dos serviços bancários no Brasil é ilusão. Todas as teorias que procuram explicar os juros e custos altos dos serviços bancários que não levem em consideração os efeitos nocivos deste oligopólio, estarão fadadas a imprecisão.
É urgente a atração de novos bancos, financeiras e demais empresas de crédito para o mercado brasileiro visando estabelecer um cenário de competição que trará, sem dúvida, as tão sonhadas queda na taxa de juros real e redução significativa nos custos dos serviços bancários.
Ao fim e ao cabo, entendemos também que a solução não passa pela opção do jovem Raskolnikov, personagem do romance universal e atemporal de Dostoiévski Crime e Castigo, que defendia que precisava matar a velha agiota. Na verdade, defendemos, que é necessário apenas aumentar consideravelmente a quantidade de bancos no Brasil e as próprias leis de mercado se encarregarão de fazer o resto.
Os 05 bancos em números:
- Mesmo com resultados excepcionais em 2020, o Bradesco eliminou 7.754 vagas, Santander 3.220, Caixa Econômica 2.611 e Banco do Brasil 1.517, perfazendo um total de 15.102. Itaú foi a exceção e apresentou um crescimento de 2.228 vagas. Resultado líquido dos 05 bancos: 12.874 vagas a menos, em plena pandemia. Haja sensibilidade social.
- Em relação a quantidade das agências, os 05 bancos fecharam em 2020 1364 agências e 5.000 Caixas Eletrônicos.
- No mesmo período, o ranking dos maiores bancos por ativo ficou assim: 1° é o Itaú com R$ 2 trilhões, seguido do Banco do Brasil com R$ 1,7 trilhão, em 3° Bradesco com R$ 1,6 trilhão, Caixa Econômica em 4° com R$ 1,5 trilhão e por último Santander com R$ 1,0 trilhão.
- As medidas emergenciais do governo federal proporcionaram aos bancos R$ 1,274 trilhão em liberação de liquidez, R$ 1,348 trilhão em liberação de capital e R$ 556,7 bilhões em renovações, totalizando R$ 3,2 trilhões em crédito potencial.
Fonte dos dados: DIEESE
- Escrito por Marcio Borba;
- Economista;
- Diretor da Borba Consultoria;
- Presidente da Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial - SPPE.