Bodegas Muga
Voltei lá oito anos depois. No mesmo mês de março. Desta vez por um motivo muito especial. Que adiante relato. Antes justifico o repeteco. Não está entendendo? Então acaba de revelar que não é um antigo leitor meu, amigo. Pois em março de 2010 escrevi sobre a minha primeira visita a esta vinícola da Rioja. Artigo a que dei o título de “A Muganífica de Espanha”.
Uma corruptela com um quê de trocadilho (esqueci de perguntar às amigas Suassuna se essa figura gramatical tem outro nome!), “misto quente” de Muga com magnífica. Permita um aparte, leitor. Não há nada mais frustrante que a gente acreditar ter criado um termo “genial” e ninguém comentar.
Foi o caso dessa muganífica. Por isso, hoje não quis inventar e optei pelo bem convencional Bodegas Muga. Ainda que essa excelente vinícola fuja ao convencional em muitos aspectos. Você pode estar se perguntando, com tanto produtor de vinho lá na Espanha, por que decidi repetir uma visita?
Como já disse, o motivo foi especial, único. Marcela, minha filha, comemorou seus 40 anos com um grupo de amigos, em viagem à Espanha. No roteiro, na própria data do aniversário, ela faria uma visita à Muga, organizada pelo companheiro e importador Luli Dias.
Claro, minha opinião muito positiva sobre esta bodega pesou na escolha. Mas o que ela nunca imaginou é que eu estaria lá. No dia. Surpresa e emoção grandes, amigo! Mas você não quer saber de nada disso, né? Vamos ao tema dos vinhos. Já que você não leu, em 2010 eu dizia:
“É uma empresa familiar, ligada ao mundo do vinho desde o século XVII, mas a fábrica própria só foi inaugurada em 1932. Eles usam métodos de vinificação tradicionais, com todo processo em carvalho, incluindo a fermentação. Os barris de carvalho são feitos lá, por artesãos próprios, sob nossas vistas, fato que nunca antes presenciara, nas muitas vinícolas por onde andei (obs. Oito anos depois, só vi isso em outra vinícola, na França).
As belas instalações bicentenárias do prédio, ricas em pedras, foram climatizadas, mantendo os vinhos sob temperatura constante. Toda produção e o armazenamento feitos com muito esmero”. Algumas dessas opções, tais como fermentação em toneis de carvalho (em vez de inox), com climatização do ambiente e a fabricação própria dos barris, oneram o processo produtivo, mas fazem parte da filosofia de excelência da empresa, como afirmou Manuel Muga Peña, terceira geração dessa vitoriosa família de vinhateiros.
Valendo destacar que a elaboração dos barris se inicia com a viagem do toneleiro - atividade praticamente em extinção - às florestas francesas, para seleção das árvores de carvalho que serão adquiridas pela Muga. Puro charme, não é leitor? Após a visita à fábrica, fomos recepcionados com deliciosas especiarias da região e os ótimos vinhos da bodega, enriquecidos pela gentil presença do Manuel.
Que atendeu com toda fidalguia à saraivada de perguntas que fizemos. Fomos brindados com os tintos Muga Crianza, Muga Selección Especial, Prado Enea e Torre Muga, vendidos na Casa dos Frios e cuja elevada qualidade é bem conhecida do pernambucano.
Mas quero fazer um destaque. Sempre considerei o Muga rosado o melhor vinho rosé disponível no nosso meio, na faixa de preço abaixo dos cem reais. Mas lá fomos apresentados ao Flor de Muga, elaborado com 100% da casta Garnacha.
Um rosé de linda coloração, elegante e volumoso na boca, que deixou seu irmão para trás. Não deixando a pergunta calar: Licínio, Tito e Luli, quando vocês vão importar esse vinho? Concluo com meu clássico tim, tim, brinde à vida, à excelente Bodegas Muga e às quarentonas!
*É médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço