De cães-babás a escanteados pela sociedade, conheça a história dos pit bulls
Estigmatizados como violentos e até execrados por uma parcela da sociedade, os pit bulls, na realidade, não são cães de natureza agressiva. A força que eles têm é que merece atenção, uma vez que os animais agem instintivamente, isso do pequeno ao grande porte.
No final de 2020, as redes sociais foram tomadas por depoimentos de tutores relatando suas experiências com pit bulls, muito por conta da repercussão da Lei 225/08, que proíbe a circulação e criação desses cães no município do Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.
A lei já existe há algum tempo, mas voltou ao debate após uma criança ter sido atacada por um cão pit bull em um marina localizada na cidade.
Em fotos e vídeos de momentos afetuosos, os tutores fazem questão de sempre frisar que a criação tem papel direto no comportamento desses cães. E isso, na verdade, não se restringe aos pit bulls. É sabido, por estudos, que os cães, muitas vezes, são reflexo dos donos, seja positiva ou negativamente.
"Animais que são criados presos, com guia curta, sem nenhum tipo de afeto, tendem a apresentar comportamento mais agressivo. Me preocupo muito quando recebo filhotes de pit bull ou rottweiller, por exemplo, que são pegos para serem criados em áreas isoladas da casa, sem contato com pessoas, sem carinho. São cães que dificilmente atacam, mas, quando atacam, viram notícia. Fico mais tranquila quando atendo um pit bull do que um pinscher, por exemplo. O problema é a criação sem afeto, presos, sem socialização”, pontua a médica veterinária Manuela Passos.
Confira a seguir algumas curiosidades sobre a história e o comportamento desses cães.
O american pit bull terrier é um cão de porte médio, pelagem curta e musculatura bem definida. As fêmeas podem ter o corpo um pouco mais longo que os machos.
A cabeça tem comprimento médio, com o crânio chato e o focinho largo e profundo. As orelhas são de tamanho pequeno para médio e podem ser naturais ou cortadas. Eles podem se apresentar em cores variadas, exceto merle (manchas sobre uma pelagem de cor sólida ou bicolor). Outra característica considerada “falha grave” são os olhos na cor azul.
Embora bastante conhecida, a raça american pitbull terrier não é cadastrada na CBKC (Companhia Brasileira de Cinofilia) e faz parte de um grupo de raças não reconhecidas pela Federação Cinológica Internacional (FCI).
Segundo documentos oficiais dessas entidades, os pit bulls surgiram no decorrer do século XIX, quando criadores na Inglaterra, Irlanda e Escócia começaram a experimentar cruzamentos entre buldogues e terriers em busca de um cão que combinasse a esportividade do terrier com a resistência e o atletismo do buldogue.
O resultado foi um cão que reunia em si virtudes de grandes guerreiros: resistência, coragem indomável e gentileza com os que ama. Nessa época, os pit bulls eram a primeira opção das famílias que desejavam um animal de estimação, pois, além dessas características, o apreço pelas crianças sempre foi um comportamento que chamou atenção neles. Eram conhecidos como cães-babás.
Eles podem ser facilmente confundidos com o american staffordshire terrier (amStaf), que também foi originado nas mesmas condições. Essa raça, contudo, é reconhecida pelas entidades oficiais.
Apesar de se assemelharem muito, normalmente os pit bulls são maiores e mais magros, enquanto os amStaff têm um corpo ligeiramente mais robusto e compacto, além de geralmente apresentarem olhos mais escuros.
Especialistas dizem ainda que o amStaff tem um temperamento mais brando, enquanto o pit bull é mais agitado, o que, muitas vezes, lhe dá a conotação de imprevisível. São semelhantes, contudo, no apego à família humana e no espírito brincalhão. As duas raças também compartilham o comportamento atento e ágil.
Cães de guarda?
É muito comum encontrar pit bulls sendo utilizados como cães de guarda. No entanto, essa nunca foi uma tarefa adequada para eles. Segundo descrição da CBKC, "o american pit bull terrier não é a melhor escolha para os que procuram cães de guarda por ser extremamente amigável mesmo com desconhecidos”.
Esse, inclusive, é um dos principais fatores para o alto índice de abandono. Uma vez que o tutor percebe a “não eficiência” do animal na função, acaba se desfazendo dele.
Ainda de acordo com o perfil publicado pela CBKC, não é característica da raça ter um comportamento agressivo com humanos, mas eles podem ser grosseiros com outros cães, por isso a importância de fazer a socialização desde os primeiros meses de vida.
Alguns estudos explicam que cães responsáveis por ataques que ganharam os noticiários tiveram algum grau de treinamento ou foram submetidos a situações violentas (de criação), reproduzindo uma conduta que não é necessariamente da natureza deles.
Atléticos
A estrutura física dos pit bulls deixa clara a força que eles têm. Donos de ossos robustos e músculos aparentes, eles têm um condicionamento físico invejável. Por isso e pelo alto grau de inteligência, se saem muito bem em eventos de performance.
O adestrador Maviael Bernardo explica que essa é uma raça de muita energia, sendo necessário gastar isso em atividades, como correr, nadar e brincar.
"Quando criados em ambiente tranquilo, sociável, amoroso e higienizado, com atividades diárias e boa alimentação, esses cães raramente manifestarão comportamentos agressivos. O adestramento feito desde os primeiros meses de vida, assim como o convívio com humanos e outros animais, são aliados importantes na criação”, diz. A castração é outra aliada.
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Para manter os músculos conservados e saudáveis, é preciso unir alimentação balanceada e rotina exercícios físicos. Em média, um macho adulto deve pesar entre 16kg e 27kg, enquanto as fêmeas variam entre 14kg e 23kg, a depender da relação com a altura. Esses cães têm uma expectativa de vida em torno de 14 anos.
Ganhando fama
Os pit bulls têm um biotipo forte, musculoso e com capacidade para empurrar e puxar uma presa e respirar tranquilamente enquanto fazem isso.
Por contra desse condicionamento, começaram a ser usados em atividades cruéis, como rinhas e até lutas contra touros, sendo treinados para terem comportamento violento.
Os cruzamentos sucessivos em busca desse molde “cão de briga", unindo sempre cães maiores e mais fortes são vistos com reticência, por originarem personalidades mais agressivas.
Maviael frisa, inclusive, a necessidade de uma legislação que fiscalize a reprodução desses animais. “ O ideal seria documentar os cães com perfil para reproduzir, de preferência aqueles com personalidade mais dócil”, explica.
“Se você entrar na internet, tem pit bull à venda por R$ 300, quando um cão puro, de fato, custa entre R$ 1.800 e R$ 2.500. Vai simplesmente proibir a raça de circular? O ideal seria ter uma legislação com poder para fiscalizar essa reprodução e, principalmente, a forma como esses cães são criados”, frisa.
"Se você pegar um cachorro de qualquer raça e deixar ele sem as necessidades básicas, ele vai ficar revoltado, não tem como. A gente sabe da força do pit bull, mas, no que diz respeito a atacar alguém, poderia ser um rottweiller, um pastor alemão ou um poddle, se criados em situações adversas. A gente sabe que o estrago é diferente, mas o animal não tem culpa alguma”, completa ele.
Mordida
Ao contrário do que muita gente pensa, os pit bulls não têm a mordida mais forte entre os cães. Em 2019, a American Veterinary Medical Association (Associação Médica Veterinária dos Estados Unidos) conduziu um estudo para identificar qual cão tem a força de mordida mais expressiva.
Os pit bulls ficaram na oitava colocação, com 235 PSI - (escala científica chamada Pound force per Square Inch ou libra-força por polegada quadrada).
Ficaram atrás do pastor alemão (237 PSI), doberman (245 PSI), buldogue (305 PSI), rottweiller (328 PSI), cão lobo (406 PSI), mastim (556 PSI) e kangal (743 PSI).
Isso não quer dizer que suas mandíbulas não sejam fortes. Elas são capazes de fazerem um grande estrago, como tantas outras. E o que os diferencia é, na verdade, a capacidade de poder executar uma quantidade maior de mordidas em poucos segundos. É mito, no entanto, que eles travam a mandíbula para não soltar as presas.
Conscientização
Em alguns países, o mês de Outubro é voltado para a realização de campanhas que visam quebrar o preconceito que ainda cerca a raça. Nos Estados Unidos, por exemplo, é baixo o número de adoção desses animais, enquanto o índice de eutanasia é elevado.
A campanha tem por objetivo mostrar que o tipo de criação pode ser um fator determinante, independente de qual seja a raça do pet.